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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Professores da FGV apoiam professor que humilhou aluno em escola de São Paulo



Alunos e professores da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP) divulgaram uma carta aberta nesta quarta-feira, 6, em que manifestam apoio ao professor Messias Basques, responsável por humilhar um aluno da Escola Avenues, a mais cara do Estado de São Paulo, com uma mensalidade de 10 mil reais por aluno, durante uma palestra da indía Sônia Guajajara. Até agora, 26 pessoas assinaram o documento. A FGV é um dos grandes antros da esquerdopatia acadêmica no Brasil.

“No dia 4 de abril de 2022, durante uma palestra na Escola Avenues, em São Paulo, Basques defendeu a liderança Sônia Guajajara”, diz o texto. “A coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) fez críticas à parcela do agronegócio brasileiro contrária aos direitos das populações tradicionais. A fala foi rebatida por um dos alunos secundaristas presentes de uma forma que o professor considerou desrespeitosa". Na nota, a FGV também afirma que Basques apenas “questionou o posicionamento do aluno”. “Em sua fala, o professor destacou que o respeito a ela ‘não vem porque sou antropólogo, mas porque conheço a cultura Guajajara’ — reiterando que não importa seu cargo ou titulação para valorizar a importância das contribuições da palestrante convidada".

A palestra na Avenues, contudo, aconteceu em 28 de março, não em 4 de abril — dia em que o áudio do evento foi a público. Diferentemente do que diz a nota, Basques não questionou o aluno, mas o humilhou na frente de outros 200 estudantes. Além disso, o docente não só “valorizou cargos ou titulações” como usou seus próprios títulos acadêmicos para menosprezar o estudante.

“Quando você entender o que é ser uma pessoa deste tamanho, lembrará deste dia com muita vergonha”, advertiu Basques. “Então, a minha recomendação é a seguinte: respeite-me, porque sou doutor em Antropologia. Não tenho opinião, sou especialista em Harvard. Isso é ciência. No dia em que você quiser discutir conosco, traga seu diploma e sua opinião, fundamentada em ciência. Aí sim poderá discutir com um especialista em Harvard.”

A conduta do professor poderá ser investigada pelas autoridades, visto que o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) penaliza quem “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou constrangimento”. A pena é de seis meses a dois anos de prisão.

Segundo o advogado Sylvio do Amaral Rocha Filho, mestre em Filosofia do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o aluno foi submetido a uma humilhação pública. “Resta saber se o estudante foi submetido a vexame ou constrangimento”, afirmou: “O professor usou um conceito chamado ‘argumento de autoridade’ para menosprezar o aluno". A Avenues, cuja mensalidade é de R$ 10 mil, informou que “resolverá a situação da melhor forma possível”.

Leia na íntegra a carta de alunos e professores da FGV:
Nós, discentes e docentes da Fundação Getulio Vargas abaixo assinados, apresentamos nesta carta o nosso apoio ao professor e pesquisador Messias Basques. No dia 04 de abril de 2022, durante uma palestra na Escola Avenues, em São Paulo, Basques defendeu a liderança Sônia Guajajara. A coordenadora da Articulação dos Povos Indígena do Brasil (APIB) fez críticas à parcela do agronegócio brasileiro contrária aos direitos das populações tradicionais. A fala foi rebatida por um dos alunos secundaristas presentes de uma forma que o professor considerou desrespeitosa. Basques questionou o posicionamento do aluno. Em sua fala, o professor destacou que o respeito a ela “não vem porque sou antropólogo, mas porque conheço a cultura Guajajara” — reiterando que não importa seu cargo ou titulação para valorizar a importância das contribuições da palestrante convidada. Basques é doutor em Antropologia pelo Museu Nacional-UFRJ e lecionou em universidades como USP, UFMS, UFSCar e FESP-SP. Na FGV-EAESP, é responsável pela criação da disciplina “Povos Indígenas e Políticas Públicas no Brasil”, no curso de Graduação em Administração Pública. Desde então, tem contribuído para levar temáticas mais amplas à instituição e qualificar o debate sobre povos indígenas e políticas públicas. É respeitado e admirado por colegas e alunos. Mas o respeito vai além de seus títulos, como o próprio professor frisou na ocasião. Declaramos também nosso apoio e admiração a Sônia Guajajara, uma das principais vozes que atuam na defesa dos povos indígenas no Brasil e no mundo. No momento em que milhares de indígenas se reúnem no Acampamento Terra Livre, em Brasília, acreditamos que é fundamental oportunizar espaços de diálogo, de modo a pluralizar as perspectivas de compreensão da nossa realidade. Consideramos importante as contribuições para que outros (as) brasileiros (as), especialmente os/as jovens, conheçam suas tradições e os problemas por eles enfrentados. São profundos. As proporções que o fato ocorrido na palestra tomaram devem ser motivo de alerta para toda a comunidade acadêmica e educacional. Os ataques direcionados ao professor e à liderança são sintoma da consolidação de um ambiente hostil às posturas de defesa dos direitos sociais e de denúncia às suas violações na academia. A defesa de Messias Basques é a defesa de todos os professores e professoras que se dedicam a trazer diversidade à sala de aula".

Assinam a lista de apoio os seguintes esquerdistas:

Teresa Harari — CMCD APG (EAESP)
Pedro Vianna Godinho Peria — CMCD APG (EAESP)
Sophia Veronese — CGAP (EAESP)
Paola De Angelis — CGAP (EAESP)
José Henrique Bortoluci — professor EAESP
Gianluca Arbex Fierro — CGAP (EAESP)
Renata Rocha — CGAP (EAESP)
Silvio Pedra Neto — CGAP (EAESP)
Maria Eduarda Bortoletto — CGAP (EAESP)
Leticia Laurindo — CGAP (EAESP)
Amanda Lui Beck — ex aluna EAESP
João Paschoal Pedote — CMCD APG (EAESP)
Isabela Furcolin — CGAP (EAESP)
Nina Cirello — CGAP (EAESP)
Manuel Bonduki — CMCD APG (EAESP)
Tiago Couto Porto — CMCD APG (EAESP)
Julia Loureiro Barbosa — Ex-aluna
Celso Napolitano — Professor aposentado
Mariana Costa Silveira — CMCD APG (EAESP)
Marta Ferreira Santos Farah — Professora Titular (EAESP)
Dora Cavalcanti Ehrlich — CGAP (EAESP)
Beatriz Cipriano Portella — CMCD (APG)
Mário Aquino Alves — Professor Titular (EAESP)
Guilherme Casarões — Professor Titular (EAESP)
Beatriz Cipriano Portella — CMCD APG (EAESP)
Lucas Almeida — CGAP (EAESP).”

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