Com o mega-aumento do preço dos combustíveis, o valor do gás de cozinha também disparou nas últimas semanas. Segundo os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) atualizados na sexta-feira, 18, o botijão de 13 quilos, item essencial para preparação de alimentos das famílias, já chega a custar R$ 160,00. Na média, o gás é vendido no País a R$ 112,54, uma alta de 35% em relação ao valor praticado há um ano, quando o botijão era vendido por, em média, R$ 83,11. Pela pesquisa de preços da agência, o botijão mais caro é encontrado em Mato Grosso, no Centro-Oeste, por R$ 160. Na região Sul, o valor mais alto identificado foi de R$ 155. No Norte, R$ 150. Já nas regiões Sudeste e Nordeste, o gás de cozinha já é vendido a R$ 144,99 e R$ 135, respectivamente.
O preço reflete o último reajuste de 16,1% no valor do gás de cozinha anunciado pela Petrobras na última semana. Além do valor do insumo, a quantia paga pelos consumidores inclui imposto estadual e os custos e margens de comercialização das distribuidoras e dos pontos de revenda.
A realidade é distante do que foi prometido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, quando ele afirmava que o País passaria por um "choque da energia barata". Em diversas ocasiões, o economista afirmou que o preço do botijão de gás poderia cair pela metade, algo em torno de R$ 35, considerando o valor médio à época. Anos depois, preste à concorrer à reeleição ao cargo, o presidente Jair Bolsonaro convive com a alta do combustível, que pode ficar ainda mais caro a depender da situação geopolítica global e da variação do câmbio.
"Se o preço do petróleo subir mais, ou se houver algum problema de câmbio, pode impactar o gás liquefeito de petróleo. Claro, o preço do petróleo aumenta e diminui, a depender do conflito e de outras variáveis. O preço do petróleo é resultado de vários fatores, de como vai comportar a demanda, como estão os países produtores. Vamos ver o preço subindo e descendo algumas vezes, pelo menos enquanto durar essa situação mais conflituosa", explica o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e professor de planejamento energético da UFRJ, Maurício Tolmasquim.
O especialista ressalta que o acesso ao gás de cozinha vai além do uso de um combustível, pois se trata de um insumo de necessidade básica, que interfere diretamente na segurança alimentar das famílias. "Tão importante quanto ter o alimento é poder cozinhar. Usar combustíveis improvisados, como lenha, álcool e outros, em substituição a gás, coloca em risco a saúde das pessoas, da população, sobretudo da população mais pobre", afirmou, citando que, por anos, governos utilizaram políticas públicas para subsidiar o preço do gás de cozinha.
O assessor sênior do Instituto Pólis, Clauber Leite, ressalta que a disparada dos preços afeta, sobretudo, as famílias mais pobres. "Quando falamos em aumento do gás de forma descontrolada, como está acontecendo agora, é algo que impacta diretamente as famílias. Elas passam a deixar de ter acesso a algo, algum tipo de alimento, para comprar o gás. Vemos pelos relatos que, infelizmente, as famílias mais pobres começam a utilizar outros meios de combustíveis, que não são adequados", disse. "Medidas de acesso ao botijão não é simplesmente acesso ao gás, e precisa ser visto como uma política pública voltada para população de baixa renda, que é a que mais depende desse combustível."
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