domingo, 20 de março de 2022

Brasil termina semana com mais de 70% da área de soja colhida e preços acima dos R$ 200,00 nos portos

Os mercados do complexo soja e de grãos tiveram mais uma semana de volatilidade na Bolsa de Chicago. A oleginosa encerrou o pregão de sexta-feira (18) com pequenas baixas de 0,50 a 3,25 pontos nos principais contratos, enquanto o milho e o trigo registraram baixas mais intensas. O trigo fechou o dia cedendo mais de 20 pontos entre seus principais vencimentos, ainda sentindo o movimento de correção depois das altas fortes das últimas semanas. A guerra entrou, na sexta-feira, em seu 23º dia, em sua quarta semana. De um lado, o mundo espera por um cessar-fogo o quanto antes seja possível, de outro as delegações de Rússia e Ucrânia continuam se encontrando, conversando, mas sem sucesso ou sinalizando um acordo efetivo. 

Embora o conflito esteja em andamento e continue agravando o desabastecimento causado por ele, os participantes do mercado parecem esperar por novas informações que possam voltar a direcionar os preços. "A guerra criou, efetivamente, um tsunami nos mercados mundiais de grãos. Cerca de 25 milhões de toneladas de grãos exportáveis 'desapareceram' do mercado global na safra 2021/22". informou um informe da Strategie Grains na sexta-feira. Assim, Arlan Sunderman, economista chefe de commodities da StoneX, afirmou à Bloomberg que "nas últimas três semanas, os mercados de grãos e da soja sofreram para segurarem alguns ganhos até o final de semana especulando sobre a chegada da paz".

Mais notícias continuam a ser esperadas pelos traders e participante do mercado, principalmente no caso da soja, para que um trilho melhor definido para os preços comece a se desenhar. Enquanto isso, o foco permanece sobre a conclusão da safra da América do Sul - em especial da Argentina, onde permanecem suspensas as exportações de farelo e óleo -, na demanda da China e na safra 2022/23 dos Estados Unidos.

Para o consultor de mercado Aaron Edwards, da Roach Ag Marketing, o mercado da soja tende a continuar caminhando de lado, testando dias de altas e de baixas esperando pelo novo reporte do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) no dia 31 de março - Prospective Plantings - sobre a área norte-americana para a próxima temporada. Embora os traders já conheçam os dados do Outlook Forum do USDA, divulgados em meados de fevereiro, os números do reporte do final deste mês costumam estar mais próximos da realidade. Edwards explica que estes números e a espera pela nova safra norte-americana ganhos ainda mais peso e relevância em um momento em que a oferta global precisa dela para começar a se recompor.

Assim como em Chicago, o mercado da soja no Brasil também teve uma semana intensa e turbulenta. Como explicou o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, os futuros da oleaginosa já se descolam do "efeito guerra" dada sua base sólida de fundamentos, a qual ainda está mantida. "Foi justificável Chicago saltar dos US$ 12 para para esses US$ 16,50 acima por conta da maior quebra produtiva da história da soja na América do Sul. Estamos em processo de colheita, temos 71% colhido nesse momento, avanço de 7,5% em relação à semana passada. Então é um progresso de safra que começa a se desacelerar porque os Estados do centro do País estão em reta final e precisamos reaquecer os extremos", diz.

Pereira destacou ainda uma demanda chinesa um pouco mais "apetitosa", depois de um momento mais tímido, com o país comprando mais 'da mão para a boca', principalmente frente aos seus estoques mais baixos neste momento. "E estoques mais baixos na China remetem à necessidade da volta da China ao mercado, e a volta da China ao mercado deve dar mais sustentação aos preços em Chicago", complementa o diretor. E assim, os reflexos para o mercado brasileiro continuam aparecendo.

Nos portos, os preços seguem testando indicativos acima dos R$ 200,00 por saca, refletindo não só os patamares em alta na CBOT, bem como prêmios ainda altos no mercado brasileiro. No porto de Rio Grande, indicativos na casa dos R$ 211,00 - depois de testarem até R$ 219,50 no início da semana - e a indústria gauchando pagando cerca de R$ 209,00 no FOB. Para Paranaguá, a soja no spot encerrou a semana testando até R$ 205,00 por saca, para julho R$ 211,00 e agosto, R$ 212,00.

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