O registro, que será público, "dará acesso e intercâmbio de informação sobre pessoas humanas, jurídicas e entidades vinculadas a atos de terrorismo e seu financiamento", diz o decreto. O texto também defende que a iniciativa busca “facilitar a cooperação doméstica e internacional para prevenir, combater e erradicar o terrorismo e o seu financiamento”. Em outro decreto também publicado nesta quarta, o governo argentino ampliou o prazo para a tramitação de indenizações aos familiares das vítimas do atentado da AMIA. Para a quinta-feira, foi declarado estado de luto nacional pelo novo aniversário do atentado, que segue impune.
O Irã, por meio do financiamento do grupo terrorista xiita libanês Hezbollah, é acusado como responsável pelo atentado a bomba ao prédio da Amia em 18 de julho de 1994, que deixou 85 mortos e 300 feridos. Uma caminhoneta carregada de explosivos atingiu o edifício onde funcionavam a AMIA e a Delegação das Associações Israelitas Argentinas (Daia).
O ataque a AMIA é considerado o atentado mais cruel na Argentina, onde vivem cerca de 300 mil membros da comunidade judaica, formando a maior da América Latina. A Argentina é o único país latino a registrar um atentado antissemita. Em um contexto de extrema tensão entre Israel e Irã, Buenos Aires sofreu outro ataque dois anos antes: no dia 17 de março de 1992, uma bomba foi lançada contra a embaixada de Israel, deixando 29 mortos e cerca de 200 feridos. A Justiça argentina acusa funcionários de alta hierarquia no governo iraniano de terem planejado o ataque, mas não foi capaz de interrogá-los.
Um memorando de entendimento com o Irã assinado em 2012 pela ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) buscou, segundo seus autores, superar esse entrave, mas nunca foi aplicado e agora é investigado judicialmente como um caso de encobrimento e traição. Outro julgamento contra a alegada "conexão local" que forneceu a logística para o ataque foi cancelado, quando foi verificado que o juiz responsável pagou a um dos envolvidos para acusar falsamente um grupo de policiais e liberar o primeiro acusado. Com isso, foi deixada de lado a investigação da chamada "pista síria", que ligava o ataque a famílias próximas ao ex-presidente Carlos Menem (1989-99). Por essa operação, o ex-juiz Juan José Galeano foi condenado a seis anos de prisão em 28 de fevereiro por desvio da investigação. Menem foi absolvido, mas seu ex-chefe de inteligência, Hugo Anzorreguy, foi sentenciado a quatro anos de detenção.
As organizações de parentes das vítimas eram demandantes e denunciavam o acobertamento, em confronto com as autoridades da comunidade judaica. "A justiça fracassou rotundamente. São 25 anos do ataque e a realidade é que não temos nada", critica Diana Malamud, esposa de uma das vítimas e líder do grupo de familiares Memória Ativa. Antes de assumir a presidência em 1989, Menem havia oferecido a países árabes que colaboraram no financiamento de sua campanha a venda de tecnologia militar e insumos nucleares ao Irã, o que não cumpriu após se alinhar aos Estados Unidos na política externa. Entre outras hipóteses, suspeita-se que o ataque poderia ser uma vingança por esses compromissos não cumpridos. Mario Cimadevilla, que esteve à frente de uma secretaria para investigar o caso mas que abandou o cargo em seguida, defende que "o poder político não tem nenhum interesse em avançar na Causa Amia; a causa está parada há anos".
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