quinta-feira, 23 de maio de 2019

Polícia Federal afirma que houve ação para atrapalhar investigação do assassinato da vereadora Marielle no Rio de Janeiro

A Polícia Federal concluiu que houve tentativa de atrapalhar as investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes. O relatório com os resultados da investigação já foi enviado para a procuradora geral da República, Raquel Dodge. A Polícia Federal entrou no caso em novembro do ano passado, quando começou uma "investigação da investigação", paralela, para verificar denúncias de irregularidades no trabalho estadual. Quem está apurando a autoria e motivação do crime em si é a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro, ambos organizações devastadas pela corrupção e bandidagem, no caso da Polícia Civil. Com 600 páginas, o documento concluído pela Polícia Federal aponta que os responsáveis pela obstrução foram o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, e sua advogada, Camila Nogueira. O agente teria dado um depoimento falso para dificultar a solução do caso. Ele procurou a polícia menos de um mês após o crime, em maio do ano passado, acusando o miliciano e ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, de ter planejado a morte da política junto com o vereador Marcello Siciliano, conforme informou o jornal "O Globo" na época. 

Ferreira contou aos policiais ter ouvido uma conversa, em um restaurante em 2017, em que os dois diziam que "precisavam resolver" um problema com Marielle e o deputado Marcelo Freixo (PSOL). Essa foi durante meses uma das principais linhas de investigação da Polícia Civil, mas ambos sempre negaram envolvimento. O policial militar é ex-segurança de Orlando e pediu proteção ao procurar a polícia, alegando ter sido ameaçado de morte pelo miliciano. Depois, porém, a Polícia Federal descobriu que Ferreira poderia ter algum tipo de interesse em prejudicá-lo: três meses depois de fazer a delação, o PM assumiu o controle de um complexo esportivo na zona oeste do Rio de Janeiro que antes era dominado por Orlando.

Nessa época, a Polícia Federal cumpriu oito mandados de busca e apreensão ligados ao caso. Os alvos incluíram as casas de Ferreira e de sua advogada; de um delegado federal que levou o PM até os investigadores, Hélio Khristian; do conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão; e de mais um ex-policial civil e um ex-policial federal. A advogada de Ferreira, Camila Nogueira, disse à Polícia Federal na ocasião que desconfiava da versão de seu cliente e que se sentiu usada, conforme depoimento divulgado pela TV Globo em março. Ela afirmou que a suposta "manobra" de Ferreira poderia ter ocorrido por ordem de outra pessoa, já que ele "não teria capacidade para tanto". Além de Ferreira e Nogueira, o inquérito concluído agora pela Polícia Federral também cita dois advogados que atuaram na defesa de Orlando da Curicica como suspeitos de tentar obstruir as investigações. Haveria, inclusive, uma conexão entre eles e um policial da Delegacia de Homicídios, que investiga o caso Marielle. Eles teriam tentado obter uma delação do miliciano, preso desde 2017 em Mossoró (RN), a mando da contravenção. O motivo seria o medo de as apurações do assassinato trazerem à tona outros crimes cometidos por um grupo de matadores de aluguel apelidado de Escritório do Crime, formado por PMs da ativa e ex-policiais.

A entrada da Polícia Federal no caso aconteceu justamente depois que Orlando acusou a Polícia Civil do Rio de Janeiro de coagi-lo a assumir a morte da vereadora e de ser paga para proteger matadores de aluguel. Ele havia dito que policiais da Delegacia de Homicídios recebiam mesadas para não elucidar assassinatos cometidos por esse grupo.

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