terça-feira, 12 de março de 2019

Julgamento do assassinato do menino Bernardo Boldrini entra no terceiro dia em Três Passos



Na manhã desta terça-feira foi ouvida a terceira testemunha indicada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul no julgamento pelo juri popular do assassinato do menino Bernardo Boldrini. Juçara Petry respondeu aos questionamentos da acusação e das defesas sem a presença dos réus, a pedido dela. A empresária, chamada carinhosamente por Bernardo de "tia Ju", era considerada a figura materna dele. Era ela a homenageada pelo menino órfão no Dia das Mães. E era na casa dela que a criança costumava ficar com frequência. "Pra nós, ele era como um filho", afirmou. "Uma vez, cobrei que ele tinha errado a tabuada do três. Aí confessou que tinha errado de propósito porque senão o tio Carlinhos não ia mais ensinar ele. Isso doeu muito", contou, chorando, a testemunha. "Bernardo era um menino franzino, meigo, honesto. Bernardo era uma pessoa do bem", definiu a empresária de 58 anos. As oitivas seguem durante a tarde, a partir das 13 horas. O MP, autor da ação, ainda ouvirá mais duas testemunhas. A defesa de Leandro Boldrini arrolou 10 testemunhas. Graciele Ugulini, Edelvânia e Evandro Wirganovicz abriram mão de testemunhas. O Júri acontece no Salão do Júri da Comarca de Três Passos e é presidido pela juíza Sucilene Engler.


Quando Bernardo Boldini comentou que iria ao Foro procurar o juiz, Juçara disse que nunca imaginou que isso fosse acontecer. Surpresa, ela perguntou o que a criança tinha dito ao magistrado: "Falei tudo", resumiu ele. Bernardo Boldrini chegou feliz depois da audiência e, depois disso, surgiu o assunto de levá-lo a uma benzedeira. "A Kelly (apelido de Graciele) disse que ia levá-lo na benzedeira, que ia ficar tudo bem. Perguntei se ele iria mesmo, e ele respondeu que, se fosse para ficar tudo bem, ele iria". Bernardo nunca falava o que acontecia em casa: "Desviava o assunto ou saía correndo". Na avaliação da testemunha, a situação piorou na casa dos Boldrini depois da audiência.




Bernardo passava muitos dias na casa da família Petry e, quando Juçara falava para ele voltar, o menino respondia: "Odeio a minha casa". A testemunha disse que evitava saber o que acontecia na casa dos Boldrini, "apenas cuidava de uma criança que estava sem a mãe". E que incentivava que ele gostasse de casa, mas a criança pedia para morar com Juçara. Ela não cogitou a hipótese porque o menino tinha parentes. O Conselho Tutelar chegou a citar que o menino poderia ir para uma casa de passagem, caso a situação de Bernardo Boldrini em casa não melhorasse: "Aí eu disse que, então, eu ficaria com ele, se fosse para isso acontecer".


Certa vez, o menino comentou sobre um cartão de Natal com a família, sem ele. "Eu odeio isso. Por que não estou junto?" Para ela, o garoto não se sentia "acolhido" em casa. A empresária descreveu Bernardo como uma criança tranquila, que em nada se parecia com o temperamento agressivo mostrado nos vídeos em que aparece brigando com o pai e a madrasta. Raras vezes ele carregava as chaves de casa quando ia para a casa da testemunha. Já o controle remoto, a madrasta pegava o dele para ela. Carlos, marido da testemunha, chegou a comprar um celular para poder se comunicar com a criança, já que, muitas vezes, eles não conseguiam encontrar Bernardo Boldrini, que circulava por várias casas.

As roupas usadas por Bernardo Boldrini, quase sempre eram dadas pela testemunha. Muitas, eram da própria Juçara que já tinha em casa objetos de uso pessoal, como escova de dentes e toalhas, para o menino utilizar. Certa vez, Bernardo machucou a boca com o aparelho dental e Juçara procurou a família para resolver o problema. "Leandro não atendia o telefone. Procurei a Kelly (apelido de Graciele) e ela reclamou dizendo que 'esse guri só incomodava, era um estorvo e que era para deixar a boca estourar". A criança não escolhia comida, dificilmente recusava algo. A testemunha explicou que o menino Bernardo Boldrini gostava de estar na igreja: "Certa vez o padre me disse que Bernardo procurava Deus". No dia da primeira Comunhão, a criança estava triste porque não teria a presença do pai nem comemoração. Pensou em desistir, mas Juçara e a família o incentivaram a prosseguir. Ela comprou a roupa para que o menino usasse no dia e também comemoraram na casa dela, com um churrasco.

A primeira suspeita de Juçara quando Bernardo Boldrini desapareceu foi que ele havia fugido: "Toda a comunidade se mobilizou. O que nos chocou foi ver o pessoal sujo de barro para procurar Bernardo e saber que o pai e a madrasta foram para a Argentina fazer compras". A defesa de Leandro Boldrini destacou ligações entre pai e filho, para demonstrar que os dois se falavam, ao contrário do que a testemunha afirmou. E que, quando o menino desapareceu, o médico tentou falar com Juçara, mas o telefone dela estava desligado. A defesa de Graciele afirmou que ela é ré confessa, que levou o menino para Frederico Westphalen, ministrou medicação nele, mas também ele se automedicou. Perguntou novamente se Juçara sabia o que acontecia dentro da casa de Boldrini, e ela reiterou que não. E esclareceu que nunca visitou a casa de Leandro, nem quando ele era casado com Odilaine. O advogado perguntou se Bernardo já havia exprimido sentimento de ódio por alguma pessoa e ela respondeu negativamente. Quanto ao acesso à alimentação, Jucara apontou que Bernardo não tinha, afirmou que as declarações se baseiam no que Bernardo contava para ela. Sobre o relacionamento com a madrasta, a testemunha disse que Bernardo não dava detalhes, mas que "não se encaixava". Já sobre Leandro, ele sempre dizia que o pai salvava vidas.  O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul está transmitindo ao vivo a íntegra do julgamento. Assista pelo site do Tribunal de Justiça gaúcho no link http://www.tjrs.jus.br/transmissao/ ou acompanhe em tempo real pelo Twitter: https://twitter.com/TJRSaovivo

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