quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Brasil utiliza banco russo para pagar Venezuela por energia usada em Roraima


O governo brasileiro utilizou um banco russo para pagar o regime do ditador Nicolás Maduro pela energia utilizada em Roraima, estado dependente da eletricidade do país vizinho desde 2001. Trata-se de uma triangulação financeira adotada pela Eletronorte para retomar os pagamentos à estatal venezuelana Corpoelec e garantir que não seja interrompido o abastecimento elétrico de Roraima, único estado não conectado ao SIN (Sistema Interligado Nacional). Os pagamentos estavam bloqueados em razão de sanções aplicadas pelos Estados Unidos, que dificultam operações bancárias com a Venezuela. A dívida acumulada pela Eletronorte pelo fornecimento de eletricidade a Roraima chegou a US$ 40 milhões. Um documento que circula na equipe econômica revela que o Brasil lançou mão da rota financeira alternativa, fazendo as remessas passarem por uma instituição financeira russa. A Rússia é uma das potências que mantém apoio a Maduro.

O primeiro depósito foi feito em dezembro, no valor de cerca de US$ 1 milhão. A quantia foi paga a título de reparação de avarias na linha de transmissão, mas o objetivo do governo era também verificar se a rota era exitosa para transferências futuras. Tampouco informaram se houve depósitos nos meses subsequentes, após a posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Com a retomada do fluxo de pagamentos, a dívida do Brasil com a Venezuela foi reduzida, com perspectivas reais de quitá-la. Houve ainda uma outra mudança para facilitar o envio do dinheiro à Venezuela. O contrato inicial previa pagamento em dólar, mas a nova rota financeira prevê a conversão da dívida para euros. Desde que chegou ao poder, Bolsonaro rompeu o diálogo com o regime chavista. Além de afirmar que Maduro é um mandatário ilegítimo, o brasileiro reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Apesar do discurso, pessoas que acompanham o assunto afirmam que a questão precisa ser analisada fora do conflito político, uma vez que está em jogo a segurança energética de um estado.



Caracas adotou uma estratégia semelhante para receber recursos provenientes de exportação de petróleo: a petroleira estatal PDVSA pediu aos clientes que paguem seus compromissos numa conta no banco russo Gazprombank. Com isso, a Venezuela tenta fugir do cerco financeiro estabelecido pelos Estados Unidos, permitindo a entrada no país de moedas fortes (dólar e euro). Brasília chegou a discutir solucionar o débito com a Venezuela a partir de um encontro de contas com a dívida de US$ 795 milhões que Caracas contraiu com o Brasil para financiar linhas de exportação. Mas a área técnica do governo avaliou que, com a triangulação financeira, o melhor seria prosseguir com os pagamentos à Corpoelec.

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