sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Bancada do PSL na Câmara cobra explicação de Bebianno e poupa Bivar

Em um discurso quase homogêneo, a bancada do PSL na Câmara dos Deputados passou a cobrar explicações e eventualmente a queda do ministro Gustavo Bebianno, o "Cavalo de Tróia", da Secretaria-Geral da Presidência. Poupa, no entanto, o presidente do partido e colega deputado, Luciano Bivar (PE), pivô da crise no governo Jair Bolsonaro (PSL). A resposta dos deputados foi afinada no momento em que a temperatura esquentou com a acusação do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que a endossou, de que Bebianno mentiu. Em entrevista na quarta-feira (14), Bolsonaro afirmou que o ministro terá de "voltar às origens", caso reste comprovado o seu envolvimento no esquema de candidaturas laranjas no PSL. "Quem estava na presidência da sigla no período em que repasses suspeitos foram feitos é quem tem que responder. Bivar não era presidente", disse o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), resumindo a argumentação da bancada: "Bebianno ou sai, ou explica". O ministro ficou no comando da sigla durante a campanha eleitoral, mas diz ter se ocupado apenas das candidaturas de Bolsonaro e outras pontuais. Na quarta-feira, Luciano Bivar promoveu um jantar entre deputados do partido e azeitou relações, não raro explosivas, na bancada. Um grupo ligado a Bolsonaro avalia que, se a situação de Bebianno já se tornou insustentável, a de Bivar está longe de ser confortável. Ele sofrerá efeitos politicamente e eventuais processos disciplinares internos ou pedidos de cassação, disseram. Mas a consequência imediata caberá ao ministro da Secretaria-Geral, dado o choque com a família presidencial. Segundo deputados, Bivar afirma que tem créditos com Bolsonaro por ter arrendado o PSL na campanha. O presidente, por sua vez, sustenta que o partido não tinha expressividade até a onda que o impulsionou - e, junto, 52 deputados (hoje são 54), ante um eleito em 2014. Há uma tensão entre esses grupos, mas a bancada tenta se proteger. "Ninguém vai crucificar ninguém", disse o deputado Nelson Barbudo (PSL-MT): "O PSL está coeso, inclusive em relação ao seu presidente Bivar, que trabalhou muito para o governo. Ele tem o respeito de muitos, inclusive o meu". 

Embora publicamente tentem minimizar o impacto da crise na Câmara, a expectativa em relação a seu desfecho escapa. "Cada vez que um cai, todo mundo comemora, é gol", disse Coronel Tadeu. Congressistas querem evitar críticas em público, mas se incomodam com a repercussão negativa entre o seu eleitorado que terá o escândalo no seio do governo, eleito empunhando a bandeira do combate à corrupção e velhas práticas fisiológicas. "Essa briga é problema deles, não me meto nisso. Eles que se entendam", disse Alexandre Frota (PSL-SP): "Sou muito independente no partido. Se algum dos envolvidos tiver que sair, tem que sair. Se tiver que ser expulso, tem que ser expulso. Se tiver que ser processado, tem que ser processado, e acabou o assunto". Frota afirmou que uma consequência já está clara: "A Previdência vai ser uma guerra, para todo mundo". Deputados apostam que a oposição usará o caso para dificultar o quanto puder a votação da reforma, prioritária para o governo. "Quem tenta atrapalhar é PT, PSOL, os partidos de esquerda. Eles que ficam procrastinando, obstruindo", disse o deputado Helio Lopes (PSL-RJ), conhecido como Helio Negão, ou Helio Bolsonaro, escudeiro do presidente. Segundo Joice Hasselmann (PSL-SP), "não precisa ser muito inteligente para entender que realmente há um desgaste, mas não é essa sangria desatada": "Torço para que a gente possa passar um passo a frente, que é a reforma da Previdência. A gente não pode ficar igual cachorro correndo atrás do rabo por conta de uma briguinha aqui, outra acolá". O grupo de Luciano Bivar criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição. O dinheiro foi liberado por Gustavo Bebianno. Maria de Lourdes Paixão, de 68 anos, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o País, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos. A candidatura laranja virou alvo da Polícia Federal, da Procuradoria e da Polícia Civil.

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