
Citgo, a filial da petroleira estatal venezuelana PDVSA nos Estados Unidos, é o grande último ativo do governo do ditador comuno-bolivariano Nicolás Maduro no exterior, o que lhe permitia vender petróleo bruto ao mercado americano, e atuava como intermediário para acesso ao sistema financeiro. Em um momento em que os Estados Unidos consideram “ilegítimo” o governo de Maduro e reconhecem a autoridade do opositor autoproclamado presidente Juan Guaidó, Washington anunciou na segunda-feira sanções contra a petroleira estatal PDVSA. “Citgo era a âncora do mercado americano de petróleo não refinado”, explicou Christopher Sabatini, o professor de Relações Internacionais da Universidade de Columbia, definindo a empresa como “a última pedra preciosa que continua no império petroleiro venezuelano”. O secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, disse que a Citgo poderá continuar suas operações, contanto que seus lucros sejam depositados em uma conta bloqueada nos Estados Unidos.

A Citgo, fundada em 1910 e com sede em Houston, possui 3.500 empregados e tem três refinarias que somam uma capacidade para processar 749 mil barris de petróleo por dia, segundo os dados da empresa, que opera em 48 terminais, tem nove oleodutos e uma rede de mais de 5 mil postos de gasolina americanos associados à marca. Francisco J. Monaldi, acadêmico do Instituto Baker da Universidade de Rice, em Houston, explicou que, do meio milhão de barris diários que a Venezuela vende aos Estados Unidos, Citgo é o segundo maior cliente.
A estratégia da Citgo tinha um aspecto duplo: por um lado, vender petróleo bruto, mas, por outro, ser um ativo de grande valor no mercado financeiro. “Historicamente, era a capacidade para vender petróleo pesado, mas, recentemente, quando a PDVSA começou a ter moratórias e sanções, ninguém queria dar crédito à estatal”, explicou Monaldi. O ditador Maduro anunciou ações legais contra a decisão dos Estados Unidos de impor sanções à petroleira estatal, mas é tudo lorota de um totalitário cantinflesco.

“Citgo é uma empresa com um bom volume de negócio nos EUA, as pessoas podem processá-los nos EUA e receber pagamento. Isso permite à PDVSA comprar coisas sem ter que pagar contado”, detalhou, especificando que isso permite, por exemplo, comprar diluentes para enviar à Venezuela processar tudo. “É um recurso estratégico nesse sentido”, disse Monaldi, também expressando que a empresa permitia à Venezuela ter um grupo de pressão dentro da indústria petrolífera dos EUA. Cerca de 96% dos ingressos de divisas do governo venezuelano vêm do petróleo. O país vive hoje uma grave crise econômica, com escassez de alimentos básicos e de remédios e uma inflação projetada pelo FMI de 10.000.000% para 2019. Em sintonia com esse declive, a produção de petróleo se situa em 1,1 milhão de barris diários, seu nível mais baixo em 30 anos, por falta de investimentos.

A Venezuela conta com as maiores reservas de petróleo do mundo, mais de 300 bilhões de barris, em sua maioria com petróleo pesado, já que o processamento é custoso. As três refinarias da Citgo são especializadas em petróleo pesado. “Isso vai esmagar a economia venezuelana. Vai ter um efeito dramático”, disse Sabatini, explicando que, com essas sanções, o processo de exportação a outros países não vai ser imediato, pela especificidade do processamento venezuelano. O especialista explicou que não é tão simples redirigir um oleoduto e é necessário um período de adaptação para esse tipo de produto. A respeito de seu efeito sobre os preços do petróleo bruto nos Estados Unidos, uma das grandes razões que Washington tinha até agora para não impor essas sanções, Sabatini indicou que isso é mais difícil de prever. “Agora mesmo, os Estados Unidos estão produzindo o suficiente e os mercados estão suficientemente provisionados, e isso pode não perturbar os mercados”, disse o especialista. Ele advertiu que mercados como o de petróleo bruto não são “racionais” e agrupações de produtores podem decidir cortar a produção, afetando os preços.
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