segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Inflação fecha 2018 abaixo da meta, com freio da economia e cautela nos juros

Com alta de 0,15% em dezembro, a menor para meses de dezembro desde o Plano Real, a inflação, medida pela variação acumulada do IPCA fechou 2018 com elevação de 3,75%. Ficou, assim, equidistante do centro da metade ano, de 4,5%, e do piso do intervalo de tolerância do sistema, que era de 3%. Habitação (alta de 4,72%), Alimentação (mais 4,04%), Transporte (+ 4,19%) e Educação (+ 5, 3%) resumem os itens que puxaram a inflação no ano passado. No caso da Habitação, a explicação está nas altas das tarifas de energia elétrica, impactadas por cinco meses de bandeira vermelha grau 2. Transporte se correlaciona com os preços dos combustíveis, pressionados pela greve dos caminhoneiros. Quanto à educação, a elevação tem a ver com a rigidez dos contratos indexados. A tendência é que, apesar da projeção de altas mensais mais fortes, pelo menos até maio, a inflação continue bem comportada, ao longo de todo o ano de 2019. A alta de preços pode superar o centro da meta para o ano, de 4,25%, no segundo trimestre, mas deve refluir a partir daí para terminar por volta de 4%, no acumulado anual, em dezembro, abaixo dos 4,25% fixados como centro da meta. Essa previsão de ligeira alta, na comparação de 2019 com 2018, se deve às expectativas de uma aceleração, ainda que bem moderada, na expansão da economia e também da presença de fatores climáticos capazes de afetar a oferta de alimentos. As projeções se sustentam igualmente na premissa de que os preços administrados não serão significativamente influenciados pelos regimes hidrológicos, no caso da energia, ou por pressões de cotações internacionais, no caso dos combustíveis. A economia em marcha lenta, com o desemprego e a informalidade em níveis ainda elevados, exercendo freios na demanda, foi a âncora, agora aceita por crescente maioria de analistas, da inflação benigna registrada em 2018. Uma das muitas prova disso pode ser encontrada na evolução dos preços no segmento de serviços, notadamente os chamados serviços adjacentes, que excluem empregados domésticos, comunicação, cursos e turismo. Nesse grupo, que responde por mais de 60% do total do setor, a inflação acumulada no ano ficou em 3%, abaixo, portanto, do variação geral do IPCA. No geral do grupo dos serviços, a inflação, de 3,36%, foi a mais baixa desde o início da série atual, em 2012.

A atividade econômica fraca e o desemprego, combinado com a alta da informalidade no mercado de trabalho, restringe o acesso ao consumo. É o que explica, por exemplo, a variação de apenas 0,61% nos preços do vestuário, o mais baixo desde 1998, e das despesas pessoais, cuja alta de 2,98%, em 2018, é menor desde 1999. Um detalhe que não pode ser esquecido é que, não fosse a greve dos caminhoneiros em maio, o IPCA seria ainda menor. Todo esse quadro é corroborado pela variação muita baixa dos núcleos de inflação. Como todos, de alguma forma, eliminam preços mais voláteis, os núcleos mostram como se encontra a inflação em seu aspecto mais estrutural. Na média, os núcleos de inflação, em 2018, subiram apenas 2,8%, abaixo do piso do intervalo de tolerância da meta do ano. Do ponto de vista da política monetária, os números da inflação em dezembro — que devem refletir uma nova freada mensal, no intermitente caminho do crescimento da economia — trarão combustível para a discussão da oportunidade de o Banco Central cortar a taxa básica de juros em 2019 — e não mantê-la em 6,5% nominais ao ano, como ainda é maioria entre as apostas dos analistas.

Embora exista quem considere que uma expansão da economia em 2,5%, neste ano, previsão otimista da maioria, possa impor altas dos juros até 8% ao longo do ano, cresce o número dos que acham que a taxa Selic não está numa posição tão estimulativa da atividade econômica como tendo afirmado o Banco Central em seus comunicados. De fato, os números baixos da inflação e, sobretudo, dos núcleos, permite suspeitar que o BC talvez tenha conduzido com excessiva cautela a política de juros no ano passado.

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