quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Ilan Gondfajn diz que é muito baixa a média de recuperação de garantias no Brasil

O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou na segunda-feira, 3, que, por causa de falhas no marco legal, a recuperação de garantias em operações de crédito no Brasil é de cerca de 13% dos valores emprestados, contra 80% na média mundial. Goldfajn chamou a atenção para o fato ao voltar a defender a aprovação de uma série de medidas microeconômicas com foco no aumento da eficiência do setor bancário e do mercado de crédito, a chamada agenda "BC+".  "Não basta só a inflação ficar na meta. Precisamos avançar em medidas estruturais", afirmou o presidente do Banco Central, em palestra durante seminário na Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro. Segundo Goldfajn, o sistema bancário nacional pode ser mais eficiente e as medidas buscadas pelo Banco Central, incluindo ações no campo das garantias, podem aumentar a competição e, portanto, baixar os spreads e as taxas ao consumidor final. No campo das garantias, Goldfajn citou a criação das Letras Imobiliárias Garantidas (LIG). "Temos que trabalhar as garantias", afirmou Goldfajn. O presidente do BC deu exemplo ainda de outras ações, para flexibilizar a portabilidade das contas-salário e o mercado de cartões de crédito e facilitar a entrada no mercado de instituições financeiras inovadoras, com destaque para novas tecnologias. "Temos novos competidores, que podem parecer pequenos, mas estão captando bilhões em NY", afirmou Goldfajn, numa referência ao mercado de meio de pagamento, que prestam o serviço com as maquininhas de cartão de crédito e débito.

Conforme dados mostrados por Goldfajn na apresentação, em 2016, apenas 14,3% do mercado de meios de pagamento estava fora das mãos das duas empresas líderes do segmento. Em 2018, essa fatia subiu para 26,4%. Goldfajn comemorou ainda a aprovação da lei que cria as duplicatas eletrônicas, em reta final no Congresso Nacional, e previu ainda para este ano a aprovação da lei que altera as regras no sistema de cadastro positivo de crédito. "Em poucos dias vamos ter a duplicata eletrônica", disse Goldfajn. Ilan defendeu mais uma vez a autonomia do Banco Central, com mandatos da diretoria independentes do Executivo, além da continuidade de reformas, como da Previdência. Durante a palestra, ele argumentou que o objetivo é diminuir as incertezas e o prêmio de risco, para garantir um custo Brasil menor e o crescimento da economia. "O Banco Central tem de fato autonomia. Os políticos não entram no Banco Central. Mas, em ano de eleição, todo mundo não para de perguntar se o presidente do Banco Central vai ficar. Em países desenvolvidos não acontece isso. O governo muda num ano e o Banco Central em outro", afirmou. 

Em seguida, acrescentou que o Brasil precisa continuar no caminho de ajustes e reformas e que o crescimento só será sustentável se as reformas continuarem. "A atuação do Banco Central foi firme neste ano. Com reformas e ajustes a recuperação pode ser mais que gradual", acrescentou. Em sua opinião, o crescimento "é o objetivo do governo como um todo". Em sua palestra, o presidente do Banco Central destacou o trabalho realizado neste ano, que, em sua opinião, geraram avanços. Entre eles, citou a queda do spread bancário. "Tem muito para avançar. Mas já estamos avançando. Há sinais de saúde que estão vindo no sistema financeiro", como o crescimento do acesso ao crédito. Outro exemplo de melhora citado por Ilan Goldfajn foi a redução da taxa mensal do cartão de crédito. "Uma taxa de 11% ao mês ainda é alta. Mas percebam que estava em 15%. Tem que saber qual é a direção. Não é a direção de medidas populistas, mas estruturais, que vão nos levar a que essa taxa não volte mais", afirmou.

O presidente do Banco Central disse ainda que "as coisas não vão ser resolvidas em dias, mas ao longo do tempo" e que espera que o Congresso aprove definitivamente a criação do cadastro positivo, dos bons pagadores, ainda neste ano. Ele ainda afirmou que começar 2018 com a inflação abaixo da meta fixada pelo governo federal foi importante para enfrentar problemas ocorridos ao longo do ano. Goldfajn destacou a piora no cenário externo, com depreciação das moedas de países emergentes, e o ambiente doméstico volátil como exemplos de desafios. "Começar 2018 com a inflação abaixo da meta se mostrou útil", afirmou Goldfajn, em apresentação durante evento promovido pelo Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.

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