quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Com votações avassaladoras, família Bolsonaro se consolida como grife política


O clã Bolsonaro se consolidou nestas eleições como grife capaz de eleger seus integrantes com votações avassaladoras e ainda levar de arrasto quem personifica seus ideais. Juntos, o patriarca e dois de seus filhos garimparam Brasil afora 55.499.511 votos no domingo, quantidade suficiente para fazer de Eduardo o deputado federal mais votado na história do País, garantir a Flavio uma das três cadeiras do Rio de Janeiro no Senado e transformar Jair em favorito a vencer a corrida presidencial no segundo turno. Ao atravessar divisas estaduais, a família já é considerada uma das mais influentes no cenário político nacional, ofuscando os Sarney, os Calheiros, os Barbalho e os Magalhães. "Mais de 60% dos parlamentares, na legislatura que se encerra na Câmara, têm vínculos com famílias políticas. No Senado, passa de 70%. A bancada da família certamente continuará sendo uma das maiores no Congresso", analisa o cientista político, sociólogo e professor da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Costa de Oliveira. Diferentemente das famílias que se afirmaram com traços oligárquicos de dominação, os Bolsonaro ergueram-se prometendo combater o medo, a insegurança, o desemprego e o comunismo, além de pregar o fortalecimento da família tradicional. A lealdade de seus eleitores não está atrelada a nenhum tipo de dependência. "No Nordeste, a dominação veio por meio de uma fidelidade canina, em que as pessoas não tinham como rompê-la, porque, se rompessem, morreriam. A relação envolvia dependência econômica e política", acrescenta Michel Zaidan, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

Autor do livro "Teias do Nepotismo", Oliveira considera a família Bolsonaro apartidária. O candidato a presidente, por exemplo, já defendeu sete siglas e flertou com a oitava antes de filiar-se ao PSL, legenda nanica elevada à segunda maior bancada da Câmara a partir de 2019. A mudança de patamar veio pelas mãos de um parlamentar que, em quase totalidade da sua vida política, transitou entre o baixo clero do Congresso, longe do protagonismo. Aos 63 anos, caso seja eleito, Jair tornará os Bolsonaro a principal família da política brasileira, ainda que momentaneamente, acreditam ambos os especialistas. "São eles quem criam o partido. Há alguns meses, tentaram com o Patriota, mas acabaram no PSL. O partido é uma questão secundária em relação ao interesse familiar. Eles agem como famílias políticas dentro das instituições", complementa Oliveira. 

O poder passado de pai pra filho faz com que famílias se instalem no Estado e nele permaneçam por gerações, criando redes facilitadoras para postos em cargos comissionados, currais eleitorais e clientelismo. O professor Michel Zaidan, da Universidade Federal de Pernambuco, avalia que a renovação da política fica prejudicada, pois é feita por meio de familiares ou aliados políticos com a mesma ideologia, onde apenas o poder é transferido. "Os clãs tendem a ser o que há de mais atrasado na democracia. Se há um estado mais desenvolvido, com a democracia consolidada e menor desigualdade social, a formação destes grupos familiares tende a ser menor", concluiu Zaidan.

Além do pai e dos filhos, uma ex-mulher de Jair chamada Ana Cristina Valle também concorreu com o sobrenome do militar reformado. Cristina Bolsonaro (Podemos) candidatou-se a deputada federal pelo Rio de Janeiro, mas não foi eleita. Fez 4.555 votos. Ela tornou-se peça central na reta final do primeiro turno quando a imprensa revelou que ela relatara ameaça de Jair contra ela durante processo de separação. Jair emprestou seu sobrenome, ainda, a um amigo militar. O subtenente do Exército Hélio Fernando Barbosa Lopes, o Hélio Negão, 49 anos, concorreu no pleito a uma vaga na Câmara dos Deputados do Rio com o nome de urna Hélio Bolsonaro (PSL). Ele foi o mais votado, com 345 mil votos. 

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