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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Diretor Jurídico, cunhado do delator Marcelo Odebrecht, sai da empresa após se tornar réu na Lava Jato

O vice-presidente jurídico do grupo corrupto e propineiro Odebrecht, Maurício Ferro, pediu para deixar o cargo na noite da sexta-feira (17) após se tornar réu por suspeita de corrupção. Ele é acusado de ter participado do processo que resultou na edição de uma medida provisória pelo governo Lula, em 2009, em troca de doação de R$ 50 milhões para o caixa dois do PT, segundo o delator Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo. Ferro tornou-se réu na última segunda-feira, mas não foi afastado ou demitido pela Odebrecht, como recomendam os manuais de ética corporativa ou "compliance". Ele é cunhado do sinhozinho Marcelo Odebrecht, que não se conformava com a sua exclusão do rol de diretores que negociaram delação premiada. O sinhozinho baiano Marcelo Odebrecht o torpedou entregando à Polícia Federal e Ministério Público Federal centenas de e-mails o envolvendo. 

Maurício Ferro diz na carta de demissão que se afasta do grupo para cuidar de sua defesa. A resistência do grupo corrupto Odebrecht em afastar Marcelo Ferro mostra que a empreiteira baiana propineira tropeça no projeto de aplicação de novas práticas. Em dezembro de 2016, quando fez o maior acordo de delação na história brasileira, com 87 delatores, a Odebrecht anunciou que sua política seria de tolerância zero com corrupção. "Estamos comprometidos, por convicção, a virar essa página", dizia em anúncio. Maurício Ferro é casado com Monica Odebrecht, irmã de Marcelo e filha de Emilio Odebrecht, ex-presidente do conselho. Marcelo considerava injusto que ele tenha ficado dois anos e meio preso em Curitiba (PR), vai ficar mais dois anos e meio em prisão domiciliar enquanto Maurício Ferro nem se tornara delator. Ao sair da prisão, no final do ano passado, Marcelo começou a reunir e-mails mostrando que Ferro participara de crimes ao lado dele próprio e de dirigentes da Odebrecht e Braskem que não se tornaram delatores, como Newton de Souza, que ocupou a presidência da Odebrecht quando Marcelo foi preso. A Braskem é o braço petroquímico da Odebrecht em sociedade com a Petrobras. Com a medida provisória editada em dezembro de 2009, a dívida tributária da Braskem caiu de R$ 5,5 bilhões para R$ 1,9 bilhão.

Maurício Ferro e Newton de Souza, ex-presidente da Odebrecht que se orgulhava de ter conduzido o acordo do grupo, tornaram-se réus no mesmo processo da compra da medida provisória após Marcelo Odebrecht  enviar à força-tarefa da Lava Jato mensagens em que eles discutiam estratégias ou eram informados dos passos que a empresa dera para negociar a MP"‚em troca de propina. À época da negociação da medida provisória, Ferro era diretor jurídico da Braskem. Newton, que fora escolhido para ocupar o cargo máximo do grupo, o de presidente do conselho, caiu após Marcelo mostrar que ele sabia da prática de suborno da empresa. A Medida Provisório, segundo o sinhozinho baiano delator e corruptor Marcelo Odebrecht, foi acertada com o ex-ministro da Fazenda, o petista Guido Mantega, e Antonio Palocci, deputado federal pelo PT à época. Em uma das mensagens que Marcelo encontrou em seu computador, Ferro diz o seguinte após ser informado que haveria um encontro com Mantega: "No assunto IPI, vale a pena reconfirmar o compromisso da MP e da contra-partida". A contrapartida era propina de R$ 50 milhões, ainda de acordo com Marcelo Odebrecht.

Em depoimentos à Justiça, ele confirmou que Mauricio Ferro sabia do caixa dois e que "era o responsável pelas tratativas deste tema (MP) junto ao Ministério da Fazenda". Mantega e o PT negam que a MP tenha sido comprada por R$ 50 milhões. Eles dizem que a medida foi necessária para proteger empresas da crise econômica de 2009.

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