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terça-feira, 21 de agosto de 2018

Carrefour anuncia fim dos ovos de galinhas confinadas até 2028, só vai oferecer ovo caipira, que galinha criada solta

Maior rede de varejo do País, o Carrefour, anunciou que vai se alinhar a uma tendência internacional de comercializar apenas ovos de galinhas criadas sem gaiolas até 2028, em todas as suas lojas. Em uma primeira fase, até 2025, a medida será aplicada para as marcas próprias da casa, como o selo Sabor e Qualidade. A empresa já comercializa ovos caipiras e orgânicos, como por exemplo os da marca Korin, mas o maior volume hoje ainda é de ovos de granja, em sistema tradicional. O sistema tradicional confina os animais em locais minúsculos onde não podem se movimentar, se alimentam de ração ininterruptamente e são arrancados seus bicos. Comparações entre nutrientes dos ovos criados em sistemas diferentes apontam maior quantidade de vitaminas nas galinhas que ciscam livremente e podem se alimentar conforme sua vontade. O compromisso do Carrefour foi estabelecido também nas lojas de países da Europa como França, Itália, Polônia, Bélgica, Espanha e Romênia.

O sistema livre de gaiolas é uma bandeira dos militantes contra a crueldade animal e pelo consumo consciente. Organizações como o Mercy for Animals, Animal Equality, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal e Humane Society International documentam os maus tratos sofridos pelas aves para pressionar consumidores e produtores a eliminar esse tipo de criação. Para Lucas Alvarenga, vice-presidente da Mercy For Animals no Brasil, o compromisso ajudará a "reduzir o sofrimento extremo de milhões de animais, além de ser um importante exemplo para que outras empresas implantem políticas semelhantes. Esperamos que os demais grandes grupos, como Walmart e Grupo Pão de Açúcar, também assumam esse compromisso". Segundo relatório da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil produziu em 2016 o montante de  39 bilhões de unidades, sendo que apenas 0,43% da produção foi exportado. Naquele ano, o consumo per capita do brasileiro foi de 190 ovos. 

O Carrefour tem 20 fornecedores atuais de ovos. Considerando o volume total de ovos vendidos atualmente pela rede, se o compromisso final para 2028 fosse implementado hoje, mais de 700.000 galinhas seriam retiradas das gaiolas.  A rede deve atuar junto aos fornecedores para que modifiquem os espaços e os mecanismos de criação a fim de adotar o sistema sem gaiolas. Para isso, promete auxiliar na obtenção de linhas de crédito e na contratação de técnicos para orientar a transição. No compromisso anunciado no último dia 13, o Carrefour afirma que vai atuar para elaborar um protocolo com as diretrizes do sistema sem gaiolas a ser discutido nas associações do setor como a Abras (de supermercados) e a ABPA. A empresa trabalha com a ideia de que o sistema de produção sem gaiolas pode aumentar o custo final dos ovos em 15% a 20% logo após a transição, mas este custo deve se diluir no médio prazo, quando o ovo produzido sem gaiolas deixará de ser "de nicho" e passará a ser considerado o padrão.

Pesquisa encomendada pela ONG Mercy For Animals apontou que 81% das pessoas se preocupam com a forma como os animais são tratados pela indústria alimentícia: 72% acham que o consumidor deveria estar ciente sobre a crueldade contra animais envolvida na produção de comida e, para 57%, restaurantes e supermercados deveriam parar de oferecer produtos que envolvem sofrimento para os animais. A pesquisa foi realizada pelo instituto Ipsos em 2017, com 1001 internautas de ambos os sexos, com 18 anos ou mais, e tem margem de erro de 3 pontos percentuais. Além de perguntas genéricas, o questionário exibia uma foto do sistema de produção de ovos com as gaiolas. Perguntados sobre o que achavam do confinamento de galinhas em gaiolas limitando seus movimentos, 63% dos entrevistados consideraram absolutamente inaceitável tal procedimento, 19% parcialmente aceitável, 9% não tinham opinião, 7% achavam parcialmente aceitável e 3% absolutamente aceitável.

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