quinta-feira, 12 de julho de 2018

Empresa aérea israelense El Al decide não aceitar mais exigências de judeus ultraortodoxos para trocar mulheres de lugar


Após uma coleção de atrasos em decolagens, a El Al, companhia aérea de Israel, decidiu mudar seu procedimento referente aos pedidos de passageiros ultraortodoxos para não se sentarem ao lado de uma mulher durante o vôo. A exigência é comum especialmente em vôos que ligam Israel aos Estados Unidos e decorre de uma interpretação religiosa mais estrita que proíbe qualquer tipo de contato físico entre um homem e uma mulher que não seja sua esposa. O CEO da empresa aérea El Al, Gonen Usishkin, anunciou no final de junho que esse tipo de solicitação não seria mais atendida. “De agora em diante, qualquer passageiro que se recusar a sentar perto de outro passageiro será imediatamente removido do avião”, disse ele em comunicado. 


O último incidente ocorrera dias antes, quando um voo de Tel Aviv para Nova York partiu com 75 minutos de atraso depois que quatro homens se recusaram a sentar ao lado de mulheres. Duas passageiras concordaram em trocar de lugar e só assim o vôo pôde decolar. Segundo o relato de um passageiro, um dos homens “embarcou no avião com seus olhos firmemente fechados, guiado pela mão por um de seus colegas, e assim permaneceu durante o vôo”. 

O episódio gerou perdas financeiras para a El Al —logo depois a empresa de tecnologia Nice Systems anunciou que não iria mais voar com a companhia enquanto ela não mudasse suas práticas. A El Al informou que irá providenciar em até seis meses treinamento para os tripulantes sobre como lidar com situações como essa, que se tornaram mais comuns nos últimos anos devido ao crescimento do número de judeus ultraortodoxos e à maior facilidade em viajar de avião, segundo a imprensa israelense. Um vôo da Austrian Airlines, também no mês passado, partiu de Tel Aviv para Viena com uma hora de atraso depois que 26 homens se recusaram a sentar ao lado de mulheres. Em 2014, um vôo da El Al saiu atrasado de Nova York depois de uma discussão similar. Nesse caso, porém, os ultraortodoxos aceitaram permanecer nos lugares comprados. O vôo foi descrito por um passageiro como “um pesadelo de 11 horas”. Naquele ano, passageiros de um vôo da Delta enfrentaram o mesmo. Incidentes desse tipo levaram a uma petição online para que a El Al parasse de aceitar os pedidos dos ultraortodoxos.

A Justiça israelense determinou, em junho de 2017, que as companhias aéreas não poderiam trocar mulheres de lugar a fim de poupar homens de sentarem ao lado delas. A prática, porém, continuava acontecendo porque o princípio de levar em consideração sensibilidades religiosas também é defendido em tribunais do país. E a situação não é exclusiva dos aviões. O grupo de judeus liberais Israel Religious Action Center (Centro de Ação Religiosa Israel), que venceu a ação em junho de 2017, também atuou contra empresas de ônibus e o Ministério dos Transportes israelense em relação a ônibus que atendiam bairros ultraortodoxos e permitiam a segregação de gênero.

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