sexta-feira, 29 de junho de 2018

Polícia Federal diz que empresas de fachada ocultaram desvio de verba para amigo de Temer

A Polícia Federal suspeita que a Eliland do Brasil e outras "empresas de fachada" foram usadas por mais de 15 anos como "braço oculto" da Argeplan Engenharia - do coronel João Batista Lima Filho, amigo do presidente Michel Temer - para o recebimento de propinas do setor portuário. A informação consta de relatório da Polícia Federal, no qual pede a prorrogação, por 60 dias, do inquérito que investiga suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o presidente e seus aliados. Para o delegado Cleyber Malta Lopes, que assina o documento, a estrutura montada para possíveis desvios pode "ter se perpetuado até recentemente ou mesmo os dias atuais". A Eliland é o braço, no Brasil, de uma offshore aberta no Paraguai, a Eliland S/A. A empresa era gerida por Almir Martins Ferreira, contador da Argeplan, e teria sido montada por "laranjas" escalados pelo coronel e um de seus sócios. Segundo a Polícia Federal, dezenas de documentos obtidos pela investigação indicam que a Eliland era usada para escoar parte dos recursos obtidos em serviços concedidos pelo poder público. O delegado cita suposto contrato firmado pelo grupo Rodrimar, investigado por pagar vantagens ilícitas a Temer, com a empresa. Ele menciona também vínculo comercial da empresa com a JP Tecnolimp. Constituída pelos grupos Júlio Simões e Pioneira, essa companhia fechou contrato de R$ 60 milhões, entre 1998 e 2013, com a Companhia Docas de São Paulo (Codesp) - estatal que administra o Porto de Santos e, historicamente, é comandada por aliados do presidente.

Lopes informa que a Eliland do Brasil "reiteradamente aparece como possível vínculo comercial entre várias outras empresas concessionárias do setor portuário e a Argeplan". Para ele, há suspeitas de que "foi criada justamente para constar ostensivamente nos contratos com tais empresas, acobertando-se o vínculo da Argeplan e seus sócios com o setor portuário". O inquérito dos portos foi aberto no ano passado e apura se, em troca de benefícios concedidos pelo governo, empresas do setor pagaram propinas a Temer e seus aliados. Uma das medidas sob suspeita é decreto assinado pelo presidente em maio do ano passado, o qual permitiu que as companhias renovassem suas concessões, inclusive antecipadamente, por até 70 anos. Trechos da norma foram considerados ilegais pelo Tribunal de Contas da União na última quarta-feira (27). Entre as empresas potencialmente favorecidas pelo decreto estão a Rodrimar e o grupo Libra, alvos da investigação por suspeita de que pagaram vantagens indevidas ao presidente. Temer e os demais investigados têm negado envolvimento em ilícitos.

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