O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, defendeu o uso da condução coercitiva para interrogatórios, divergindo do ministro Gilmar Mendes, que votou para proibir a medida. Em seu voto, Fachin fez um discurso contundente sobre as desigualdades no sistema penal brasileiro, o qual ele ainda considera marcado por injustiças de tratamento entre os “poderosos” e os menos abastados. O voto de Fachin acompanha parcialmente o de Alexandre de Moraes, primeiro a votar na sessão desta quarta-feira. Os ministros concordam que é permitida a condução coercitiva desde que os investigados não tenham atendido à prévia intimação. No entanto, Fachin também defende o uso da coercitiva, sem intimação prévia, quando o juiz justifica que a ferramenta foi usada para substituir uma medida mais gravosa, como prisões preventivas. Assim, a posição do ministro abre mais possibilidades para o uso da condução coercitiva frente ao que foi estabelecido por Alexandres de Moraes, e divergindo substancialmente de Gilmar Mendes.
O STF retomou na tarde desta quarta-feira o julgamento de duas ações – do PT e do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – que contestam a condução coercitiva de investigados para a realização de interrogatórios, um procedimento que vinha sendo utilizado em investigações da Polícia Federal até o final do ano passado, quando Gilmar Mendes vetou por uma medida liminar. O Supremo está discutindo esta questão 30 anos após a promulgação da Constituição Federal. E só discute porque o bandido corrupto Lula foi alvo de uma condução coercitiva. Há 90 anos existe a condução coercitiva no Brasil e ela nunca havia sido contestada.
Em seu voto, Fachin afirmou que a discussão em torno da condução é uma “oportunidade ímpar e histórica” em torno da compreensão da Suprema Corte sobre o sistema punitivo brasileiro. “O Brasil tem sido marcado ao longo de sua história por um sistema de justiça criminal notadamente injusto, com tratamento desigual entre o segmento mais abastado e o cidadão desprovido de poder econômico e político”, afirmou o ministro, relator da Lava Jato no STF. Para o ministro, este “pano de fundo mancha a paisagem cívico brasileira”. Fachin também criticou as interpretações demasiadamente amplas da Constituição, que entendem o texto constitucional omo um “tecido aberto para qualquer interpretação”. Sobre isso, o ministro disse haver dois extremos, entre aqueles que compreendem o direito penal como mínimo, beneficiando uma parcela da população, e aqueles que adotam uma política de “tolerância zero”. “Nesses opostos há um flerte com o autoritarismo”, comentou o ministro. “Ainda que sonhemos com uma sociedade livre (…), quer se queira ou não, a Constituição brasileira escolheu o direito penal como um de seus instrumentos, inclusive como de proteção dos direitos humanos”, continuou Fachin.
Apesar da críticas, o ministro aproveitou o voto para “saudar” os avanços em torno do sistema criminal brasileiro, que já superou “muitas das causas” dos tratamentos desiguais. “Saúdo e registro neste voto os recentes avanços obtidos que importaram no desvelar de uma sucessão de episódios repugnantes, e isso se deve também e especialmente a determinação e persistência de muitos juízes de primeiro grau, secundados por igualmente valorosos julgadores de segundo grau”, afirmou Fachin.
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