O ex-superintendente de Fundos de Investimento Especiais da Caixa Econômica Federal, Roberto Madoglio, confessou ter recebido propina para favorecer empresas do setor elétrico interessadas em obter aportes do fundo de investimento do FGTS. Madoglio assinou acordo de delação dentro das operações Sépsis e Cui Bono, que investigam desvios no banco estatal. Assumiu ter recebido propina dos grupos Bolognesi (Hidrotérmica, Porto Alegre, RS), Rede, da J. Malucelli Energia. Juntas, as duas empresas receberam R$ 1,2 bilhão do FI-FGTS, fundo formado com parte do dinheiro depositado na conta dos trabalhadores. O ex-superintendente entregou cópias dos recibos de contas mantidas no Exterior que foram usadas para receber propina. Madoglio se comprometeu a devolver R$ 39,2 milhões que recebeu de forma irregular na Suíça e no Uruguai. No caso dessas três empresas do setor elétrico, a propina teria somado R$ 10 milhões.
Um dos casos citados por Madoglio envolve a Hidrotérmica S/A, do grupo gaúcho Bolognesi. Em 2010, segundo o FI-FGTS, a empresa tinha projetos de hidrelétricas no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso. O fundo gerido pela Caixa Econômica Federal injetou R$ 360 milhões na empresa. Na versão do delator, a propina foi oferecida por Paulo Rutzen, ex-executivo da Hidrotérmica. Em 9 de novembro de 2017, Madoglio contou aos investigadores ter recebido "vantagem indevida" relacionada ao aporte, em 2010, de R$ 600 milhões do FI-FGTS no Grupo Rede. Segundo o delator, o pagamento de R$ 8 milhões foi oferecido por Maurício Quadrado, da Planner Corretora. Ele disse acreditar que os valores pagos pela Planner se referem ao grupo Rede e entregou os comprovantes dos depósitos.
Dono de distribuidoras de energia como Enersul (MS), Companhia Força e Luz do Oeste (PR), Caiuá (SP), Cemat (MT) e Celtins (TO), o Grupo Rede quebrou em 2013. Com 25% de participação, o FI-FGTS conseguiu evitar prejuízo ao acionar cláusulas contratuais que garantiram condições privilegiadas na recuperação judicial. Em depoimento, Madoglio também admitiu propina da J. Malucelli Energia, oferta que teria partido do empresário Alexandre Malucelli, que considerava o pagamento prática "normal". Para ajudar a garantir aporte de R$ 300 milhões do FI-FGTS, a J. Malucelli pagou R$ 500 mil ao ex-diretor da Caixa Econômica Federal. Conforme o balanço do FI-FGTS, o fundo virou dono de 40,8% da empresa. Na verdade, de tão criminosas, essas empreiteiras deveriam ser fechadas intempestivamente.
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