segunda-feira, 7 de maio de 2018

Polícia Federal diz que a empreiteira corrupta Odebrecht usou esquema da "Operação Câmbio, Desligo" para pagar a turma de Temer


A Odebrecht utilizou um operador financeiro e uma empresa de entrega de valores investigados na operação "Câmbio, desligo" para efetuar repasses ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, conhecido na planilha da propina da empreiteira baiana como "Fodão", e ao amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer, José Yunes. Deflagrada na quinta-feira, dia 3, a operação investiga um sistema financeiro paralelo comandado por Dario Messer, apontado como o “doleiro dos doleiros”. O esquema teria movimentado cerca de US$ 1,6 bilhão entre os anos de 2011 e 2017 por meio de 3 mil offshores espalhadas em 52 países. Os delatores Vincius Claret, conhecido como Juca Bala, e Cláudio Barboza, o Tony, revelaram aos investigadores da operação “Câmbio, Desligo” que a Odebrecht era cliente do grupo comandado por Messer e que o doleiro chegou a emprestar US$ 8 milhões, em 2011, para o caixa 2 da empresa utilizado para pagar propina a políticos.

Os pagamentos aos aliados do presidente seriam parte dos R$ 10 milhões prometidos pela empreiteira baiana ao grupo político de Temer em jantar realizado, em 28 de maio de 2014, no Palácio do Jaburu. Os repasses, delatados pelo ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Mello, são alvos de inquérito no Supremo Tribunal Federal em que Temer e os ministros Moreira Franco (atualmente em Minas e Energia) e "Fodão" Padilha são investigados por suspeitas de repasses de propinas para campanhas eleitorais do MDB em troca de favorecimento à empresa.

Ouvido nesse inquérito que tramita no STF, o policial militar Abel de Queiroz confirmou ter realizado ao menos duas entregas no endereço de Yunes, entre os anos de 2013 e 2014. Queiroz era funcionário da Transnacional. A empresa é a filial paulista da Transexpert, investigada na operação “Câmbio, Desligo” e apontada como integrante do sistema financeiro paralelo comandado por Messer, considerado o maior doleiro em atuação no Brasil.

O policial militar esteve no local onde fica o escritório de Yunes acompanhado dos investigadores e confirmou “com absoluta certeza” ter ido realizar entregas “pelo menos duas vezes”. A versão do policial contradiz a dada por Yunes em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR). O ex-assessor e amigo de Temer assumiu à Procuradoria Geral da República ter recebido um pacote em seu escritório em apenas uma ocasião a pedido de Padilha. O advogado disse que não sabia que a entrega era de dinheiro e afirmou que atuou como uma “mula” de Padilha.

Além da entrega no escritório de Yunes, o inquérito no STF apura as revelações de Cláudio Mello sobre entregas de valores para "Fodão" Padilha. Nesse caso, segundo o delator da Odebrecht, o pagamento teria sido efetuado em Porto Alegre, pelo doleiro Antônio Cláudio Albernaz Cordeiro, codinome Tonico. Cordeiro foi alvo de pedido de prisão na “Câmbio, desligo”. De acordo com os delatores da operação da semana passada Cordeiro é “um doleiro conhecido no mercado e fica sediado em Porto Alegre”. “O colaborador Cláudio Barboza acredita que a empresa Odebrecht era o principal cliente de Albernaz Cordeiro. Desta maneira, o colaborador acredita que, além de operar diretamente com os colaboradores, a empresa Odebrecht ainda usava Cordeiro para suprir ilegalmente suas necessidades de reais em Porto Alegre”, diz trecho do pedido de prisão contra o operador na “Câmbio, desligo”. 

Nenhum comentário: