segunda-feira, 23 de abril de 2018

Candidato do Partido Colorado é eleito presidente do Paraguai

O candidato do Partido Colorado, Mario Abdo Benítez, manteve a tradição do partido neste domingo, 22, e é o novo presidente do Paraguai. Com 99% das urnas apuradas, ele obteve 46,46% dos votos, enquanto seu adversário do Partido Liberal, Efraín Alegre, que encabeça uma aliança com partidos de esquerda e de centro, ficou com 42,73% - a diferença foi bem menor do que os 20 pontos que apareciam nas pesquisas. Benítez deve chegar à presidência com a promessa de continuar a atual política econômica. Benítez chegou à sede de seu partido e foi saudado por uma multidão que tomou a rua na frente do edifício. Ele agradeceu aos eleitores, a união do partido e lembrou seu pai. "Ecoa aqui e no mundo que a democracia prevaleceu e o povo elegeu. Construiremos um projeto decente e de compromisso com o Paraguai", afirmou. O presidente argentino, Mauricio Macri, disse ter conversado com Benítez após a vitória para parabenizá-lo. 


Graduado em marketing nos EUA e filho de um dos homens fortes da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), Marito – como é conhecido para ser diferenciado do pai, Mario Abdo Benítez, morto em 2013 – herdará um país em pleno crescimento econômico, mas com desafios nas áreas sociais e políticas. A cena do Congresso em chamas no ano passado, depois de manifestações contrárias a uma manobra para aprovar a reeleição presidencial no país, ainda está viva na memória dos paraguaios. Na ocasião, Benítez foi contra a aprovação da emenda.

Para 2018, o FMI projeta um salto econômico no país de 4,5%, mas 26,4% da população vive na pobreza e 4,5% na miséria. Benítez prometeu manter a campanha econômica do atual presidente, Horacio Cartes, e lutar contra a corrupção, principalmente no setor Judiciário, defendendo a limitação de funções dos ministros da Corte Suprema. Sob a bandeira do Partido Colorado, que domina a política no país há mais de 70 anos, Benítez afirma ser contra as violações dos direitos humanos da época da ditadura, mas lembra êxitos econômicos do período. 

O dia de votação neste domingo, 22, foi tranquilo, com poucas filas em centros eleitorais como era esperado. Nas ruas, poucos carros exibiam adesivos com propagandas eleitorais. “Votarei em Marito. Ele pelo menos é sincero, os outros fazem alianças estranhas”, disse o taxista José Domínguez, antes de votar no começo da tarde. 

A previsão era de que 67,5% dos 4,2 milhões de pessoas aptas a votar compareceriam às urnas. Em 2013, a participação foi de 68%. Em uma entrevista coletiva, o ex-presidente Fernando Lugo elogiou o alto comparecimento às urnas. “Existe uma avalanche de participação jovem que vai renovar nossa democracia.” Em declarações à imprensa paraguaia, o político colorado pediu ao longo da campanha que os eleitores o julgassem pelo presente, não pelo passado de seu pai na ditadura Stroessner. Mais de 400 pessoas morreram no período e, de acordo com um relatório da Comissão de Verdade e Justiça de 2008, cerca de 20 mil sofreram torturas ou foram presas. 

Em temas controvertidos no país, como a promoção do casamento homossexual e a legalização do aborto, Benítez mantém a posição conservadora do partido e afirmou diversas vezes que vetará tentativas de promover tais mudanças. “Acredito nos princípios bíblicos e na família”, afirma. Benítez teve um café da manhã com jornalistas e, em seguida, foi votar no centro de Assunção. Depois foi visitar o túmulo do pai no cemitério da Recoleta, na capital paraguaia. 

O embaixador do Brasil no Paraguai, Carlos Alberto Simas Magalhães, afirma que a agenda política entre os dois países deve manter a linha atual, tendo como desafios a segurança nas fronteiras e o combate ao narcotráfico e ao crime organizado, além do desenvolvimento econômico bilateral. O Paraguai, que saiu de uma ditadura de 35 anos em 1989, viveu sob a hegemonia do partido Colorado durante os últimos 70 anos, com a única exceção do governo do ex-bispo e ex-presidente de esquerda Fernando Lugo (2008-2012), que foi destituído por incompetência em um julgamento político um ano antes de concluir seu mandato.

Embora se distancie da ditadura lembrando que na época da derrocada de Alfredo Stroessner tinha apenas 16 anos, em 2006 o candidato colorado, Mario Abdo Benítez, foi ao funeral do ex-ditador, que se exilou em Brasília. "Conquistei credenciais democráticas na minha trajetória política”, declarou Benítez neste domingo, ao rejeitar as críticas que vem recebendo pelo fato de seu pai ter sido secretário privado do ex-ditador. Entre eles havia um parentesco por parte da avó. "O que me contaram é que muitas vezes quando vinha (do interior) a Assunção para estudar no Colégio Militar, Stroessner ficava na casa de minha avó, pois havia um parentesco distante entre minha avó e a mãe do general (que ainda não era presidente)”, insiste o candidato. Benítez estudou no exclusivo Colégio San Andrés de Asunción, onde os netos de Stroessner foram seus companheiros de classe. 

Apesar dos esforços de Benítez para se desvincular da ditadura, o analista político Francisco Capli diz que “os que têm menos de 40 anos já não se lembram da ditadura, por isso ela não está em discussão nesta campanha”.

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