sábado, 24 de fevereiro de 2018

Ex-diretor da Dersa no governo do PSDB em São Paulo tinha R$ 113 milhões em contas na Suíça


Uma offshore panamenha cujo beneficiário é o ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, conhecido como "Paulo Preto", chegou a ter 35 milhões de francos em quatro contas na Suíça em 2016. O valor, que à época equivaleria a R$ 113 milhões, foi verificado nas contas em julho de 2016 mas, em fevereiro do ano passado, foi transferido para contas em um outro banco, sediado nas Bahamas. A informação foi passada pelo Ministério Público daquele país a procuradores federais de São Paulo. As informações motivaram a juíza federal Maria Isabel do Prado a determinar, em outubro do ano passado, a quebra do sigilo bancário de Paulo Vieira de Souza e o bloqueio de valores nas contas suíças. Além disso, a juíza determinou que sejam repassados os documentos referentes a todas as transações feitas nas contas desde a sua criação.

A decisão estava em segredo de Justiça, mas a defesa do ex-diretor da Dersa incluiu o documento em um pedido ao Supremo Tribunal Federal para que a Corte suspenda o acordo de cooperação internacional com o Ministério Público suíço. De acordo com o Ministério Público Federal brasileiro, as contas na Suíça foram abertas em 2007 pela offshore Groupe Nantes S/A, e os valores transferidos para contas no banco Deltec Bank and Trust Limited, sediado em Nassau, nas Bahamas.

Os procuradores também apontaram que segundo, dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), Paulo Vieira movimentou quantias superiores a R$ 2,5 milhões entre 2009 e 2010, "revelando patrimônio incompatível com o cargo público ocupado".

Em dezembro, Paulo Vieira de Souza foi incluído como investigado num inquérito que apura supostos crimes cometidos senador José Serra (PSDB-SP). A investigação, autorizada pelo ministro Edson Fachin, surgiu após delatores da propineira Odebrecht relatarem irregularidades na licitação das obras do Rodoanel Sul, em São Paulo. Ex-dirigentes da empreiteira afirmaram ter ocorrido acordos entre construtoras, que teriam sido intermediados pela Dersa – à época, comandada por Paulo Vieira, o "Paulo Preto". De acordo com os delatores, representantes da Dersa exigiram repasses ilegais do consórcio vencedor na licitação do Rodoanel Sul, sob pretexto de doação a campanhas eleitorais do PSDB.

No mesmo inquérito, o senador José Serra é suspeito de receber doações ilegais da construtora propineira Odebrecht para suas campanhas em troca de facilitar contratos da empresa no estado de São Paulo. Os advogados de Paulo Vieira de Souza pedem ao STF que trave investigações do Ministério Público Federal de São Paulo sobre a atuação de Paulo Vieira de Souza na obra do Rodoanel como sendo do mesmo tema do inquérito que tramita na Suprema Corte. Assim, eles pedem que a cooperação internacional que possibilitou o envio das informações pela Suíça seja suspensa, e os inquéritos enviados para o STF. A Procuradoria Geral da República já se manifestou contra o pedido. Ainda não há decisão do relator do caso, o ministro Gilmar Mendes. 

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