quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Morreu Ruth Escobar, a grande dama do teatro e da cultura brasileira


Morreu no início da tarde desta quinta-feira a atriz Ruth Escobar. Ela sofria de Alzheimer e estava internada havia um mês no Hospital Nove de Julho. Ruth Escobar tinha 81 anos e deixa quatro filhos — um quinto já morreu. A informação foi divulgada pela Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp), organização que é proprietária do Teatro Ruth Escobar. O velório será realizado no próprio teatro, mas ainda não há horário nem data definidos.

Atriz emblemática do teatro brasileiro, Ruth Escobar era, na verdade, portuguesa. Maria Ruth dos Santos Escobar nasceu na cidade do Porto, em 1936. Ela se mudou para o Brasil ainda menina, aos 15 anos. Aqui, se casou com o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar, com quem embarcou para a França em 1958, para estudar interpretação. 

Montou sua companhia de teatro ao voltar para o Brasil, a Novo Teatro, em parceria com o diretor Alberto D’Aversa, e com ela protagonizou "Antígone América", texto do marido, em 1962, após algumas experiências de palco, como "Mãe Coragem e Seus Filhos", de Bertolt Brecht, em 1960, e "Males da Juventude", de Ferdinand Bruckner, em 1961, ambas dirigidas por D’Aversa. 

Ruth Escobar também era bastante envolvida com a produção cultural. Em 1963, abriu o Teatro Ruth Escobar, no bairro paulistano do Bexiga, na região central de São Paulo, com apoio da colônia portuguesa. A estreia se deu com "A Ópera dos Três Vinténs", de Bertolt Brecht, texto que depois seria adaptado por Chico Buarque em "A Ópera do Malandro". Cinco anos depois, o teatro foi palco de um dos mais emblemáticos episódios da ditadura militar, quando o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o local, onde se encenava a peça "Roda Viva", de Chico Buarque, depredou o cenário e espancou os atores. 

 
Em 1964, Ruth circulou com um ônibus pela periferia de São Paulo com o qual apresentou espetáculos como "A Pena e a Lei", de Ariano Suassuna. A iniciativa foi chamada de Teatro Nacional Popular e durou um cerca de um ano. Ruth Escobar ganhou uma maior notoriedade em 1968, quando reformou uma antiga garagem na Rua 13 de Maio, em São Paulo, para produzir a peça "Cemitério de Automóveis", uma adaptação de Victor Garcia para a obra de Fernando Arrabal. Essa peça marcou época no teatro brasileiro, tendo o ator Stenio Garcia como protagonista.

Como produtora, Ruth Escobar impulsionou grandes iniciativas, como a criação do Festival Internacional de Teatro, em São Paulo, em 1974. A proposta sugeria montar apresentações periódicas na cidade com o melhor da produção teatral mundial. E foi assim que os paulistanos viram montagens como "Time and Life of Joseph Stalin", de Bob Wilson. 

Na década de 1980, Ruth Escobar deixou de lado o teatro e apostou na atuação politica, sendo eleita deputada estadual em São Paulo por dois mandatos pelo PMDB e PDT. Ela voltaria ao mundo dos palcos em 1994, de forma mais discreta, trazendo para o Brasil companhias que mesclavam teatro e dança como o !Aboriginal Islander Dance Theatre", original da Austrália.
  
 
 
O editor de Videversus, jornalista Vitor Vieira, viu as grandes encenações montadas em São Paulo por Ruth Escobar, o "Cemitério de Automóveis" e a peça de Bob Wilson. Também esteve muitas vezes nos incríveis jantares-festa que Ruth Escobar organizava em sua mansão no bairro do Pacaembu, em São Paulo. Eram encontros que reuniam a elite de São Paulo. Muitas vezes encontrei nesses jantares figuras como Franco Montoro, Mario Covas, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, além de atores, atrizes, escritores, poetas e jornalistas. Ela foi uma gigantesca animadora político-cultural. Não há ninguém como Ruth Escobar no Brasil de hoje em dia. 

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