Em relatório entregue ao ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), na semana passada, o departamento de investigação e inteligência da Wada (Agência Mundial Antidoping) recomenda a destituição do diretor de operações da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), Alexandre Velly Nunes.
Nos últimos dias, Picciani e o novo secretário da ABCD, Luis Celso Giacomini, deliberaram sobre o assunto e decidiram exonerá-lo após a pressão. A decisão será publicada no Diário Oficial da União nos próximos dias. Nunes despediu-se de suas colegas na autoridade nacional nesta quarta-feira (11).
A orientação da agência mundial se deu após o departamento conduzir ampla investigação na ABCD que regula o esforço antidoping no País e é ligada ao ministério, que incluiu incursões dos investigadores da Wada ao Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre, em maio e julho deste ano.
Na ocasião, a delegação foi composta pelo diretor do setor de inteligência, o alemão Günter Younger, por outros dois investigadores e um intérprete. A divisão foi criada pela agência mundial em junho do ano passado. A motivação para o pente fino foram denúncias feitas contra a atuação da ABCD.
Entre as denúncias apresentadas estão conflito de interesse na nomeação de cargos dentro da entidade, e aí aparece a figura de Nunes. O diretor de operações era sócio de uma empresa especializada em coleta de exames antidoping, a No Doping (nome fantasia de A&A Nunes), até pouco antes de se juntar à agência nacional antidoping em setembro de 2016. A No Doping continua ativa no ramo e é administrada pelos filhos de Nunes, Alexandra e Rodrigo.
Entre as acusações que recebeu, a Wada examinou uma gravação, em que Alexandra oferece a um contratante serviços e resultados sigilosos de testes antidoping, aos quais apenas funcionários da ABCD teriam direito de verificar. Alexandra, em sua defesa, afirmou que o conteúdo da gravação é um "mal-entendido". Tal denúncia foi citada em documentário produzido pela TV alemã ARD sobre esquemas de doping no Brasil, levado ao ar em junho.
A ABCD ficou descredenciada da Wada entre novembro e abril passados. Sem a chancela da Agência Mundial Antidoping, exames antidoping feitos no Brasil não tinham validade internacional. Alexandre Nunes também atuou na equipe antidoping do Comitê Rio-2016. Ele foi um dos diretores do grupo, que foi comandado pelo médico gaúcho Eduardo de Rose, tido como um dos principais especialistas na área no País.
Um relatório divulgado em outubro de 2016 por observadores independentes designados pela Wada apontou "falhas sérias" em controles antidoping nos procedimentos adotados durante o evento. Segundo o documento, diversos atletas escolhidos para fazerem os exames "simplesmente não puderam ser encontrados" e "mais de 50% dos testes foram abortados". Ele apontou ainda que houve falta de coordenação na equipe encarregada de dirigir o departamento antidoping da Rio-2016.
O Ministério do Esporte confirmou que Nunes deixará o cargo. Porém, deu uma outra versão para a saída. "Antes mesmo do recebimento do relatório, Nunes já havia comunicado ao secretário nacional da ABCD, Luis Celso Giacomini, que deixaria o órgão, por motivos pessoais. Ele foi convidado por uma universidade europeia para ministrar na cadeira de doping do curso de Educação Física.
No início desta semana, o servidor entregou a carta de demissão ao ministro do Esporte. O desligamento será publicado no Diário Oficial da União após finalização dos trâmites administrativos", disse a pasta por meio de nota.
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