Dois empresários, um funcionário e nove professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), incluindo o reitor Luiz Carlos Cancellier, foram presos de forma temporária ou conduzidos coercitivamente na manhã desta quinta-feira durante a Operação Ouvidos Moucos. O foco da ação é o Programa Universidade Aberta (UAB), destinado a cursos de formação de professores a distância com o repasse de bolsas por meio da Capes. A proposta do projeto é que os formandos dêem aula em cidades do interior do Estado. De 2006 até 2017, o governo federal destinou R$ 80 milhões para o programa. A investigação focou, no entanto, em R$ 40 milhões, usados de 2010 até 2017. Os investigadores da Controladoria Geral da União pegaram contratos por amostragem dentro desse valor e detectaram irregularidades. Por isso, não é possível identificar quanto teria sido desviado.
Entre 2010 e 2011, foram identificados problemas em 40 procedimentos de bolsas que totalizam R$ 350 mil. Também foram encontrados nomes de 100 parentes dos envolvidos no esquema como beneficiários. Nessa lista de familiares, o valor estimado em apuração é de R$ 3 milhões. Segundo a CGU, a investigação iniciou após vistorias rotineiras feitas na universidade. Como detectaram indícios de crime, os agentes da controladoria encaminharam os dados para a Polícia Federal. Desde que os problemas foram detectados, o órgão teria alertado a UFSC e pediu correções, mas elas não ocorreram, segundo o coordenador de operações da controladoria, Israel José de Reais Carvalho.
"A operação é uma fase da investigação para cessar a prática criminosa em andamento. As medidas visam atingir o grupo e tirar os acessos dos investigados", explicou a delegada responsável pela ação, Érika Marena. O reitor da UFSC chegou de Lisboa nesta quarta-feira e foi detido temporariamente por cinco dias por indícios de obstrução à investigação da Corregedoria Geral da UFSC. Ele ficará afastado da função durante o andamento da apuração da Polícia Federal, segundo a delegada: "Os indícios, os fatos que estão sendo investigados, apontam que houve algumas ações de dificultar a investigação que existia no âmbito geral da UFSC. Eu enfatizo que os envolvidos terão a oportunidade de esclarecer seus atos", afirmou a delegada.
As sete pessoas presas temporariamente estão na sede da Superintendência da Polícia Federal, na Avenida-Beira-Mar Norte, uma edificação conhecida como "Tio Patinhas". Os delegados ainda não decidiram para onde eles serão levados pelos próximos cinco dias, tempo da prisão temporária. No prédio da polícia há duas celas com espaço para quatro pessoas cada com camas de concreto e colchões. Em nota, a Capes disse que a atual gestão assumiu em junho de 2016 e em maio desse ano tomou conhecimento pelo corregedor da UFSC sobre denúncias na universidade. A entidade, então, solicitou acesso à apuração, mas não obteve resposta da corregedoria."Ao tomar conhecimento da existência de uma investigação no programa de bolsas da UFSC, a presidência da Capes determinou, imediatamente, a estruturação de uma comissão para acompanhar o programa com visita no local e solicitação de documentação complementar", diz o texto.
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