segunda-feira, 26 de junho de 2017

Perícia não aponta edições na conversa entre Temer e Joesley


A perícia do Instituto Nacional de Criminalística (INC) na gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer (PMDB) concluiu que não houve edições no áudio. A defesa de Temer havia questionado no Supremo Tribunal Federal a autenticidade dos arquivos apresentados por Joesley à Procuradoria-Geral da República, responsável por seu acordo de colaboração. O laudo pericial será incluído no inquérito que investiga o presidente pelos crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, aberto a partir das delações premiadas de executivos do Grupo J&F. 

O laudo é parte importante no relatório da Polícia Federal que tratará do suposto crime de obstrução de Justiça cometido por Temer. A perícia já foi encaminhada à Procuradoria Geral da Repúblic, que deve apresentar denúncia contra Temer ao Supremo nos próximos dias. A perícia identificou cerca de 200 interrupções “naturais” no arquivo, atribuídas ao equipamento utilizado pelo delator para gravar o presidente. O gravador de Joesley tem um dispositivo que pausa a gravação quando há silêncio e a retoma quando é identificado algum som. 

Contratado pela defesa de Temer, o perito Ricardo Molina divulgou no dia 22 de maio um laudo em que contestou a autenticidade dos áudios feitos pelo empresário. “É uma gravação tão contaminada que não pode ser levada a sério. Ela só está sendo levada a sério pelo contexto político que a circunda. A Procuradoria é ingenua e incompetente. Aquilo é coisa de leigo e que não sabe mexer em áudio. Eles se esconderam atrás de frases como ‘índice provável de confiabilidade’. Essas duas pessoas (analistas do Ministério Público Federal) não entendem nada de áudio”, disse Molina. 

Segundo o perito, havia cerca de 60 pontos potenciais de edição. “Não dá para dizer que é edição. Tem alguma falha sistêmica neste gravador”, afirmou. “A questão é: dá pra garantir que é autêntica? Não”. “Há inúmeras portas na gravação para quem queira fazer uma edição”, apontou Ricardo Molina, que afirmou a categoricamente que a gravação “não é a original”. 

Temer foi gravado pelo dono da empresa e delator, Joesley Batista, em uma conversa no Palácio do Jaburu no dia 7 de março. No diálogo, o presidente diz “ótimo, ótimo” quando o empresário revelou estar “comprando” um procurador do Ministério Público Federal e “segurando” dois juízes, além de ter respondido “tem que manter isso, viu?” diante da afirmação de Joesley de que estava “de bem” com o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro, ambos presos. 

Na conversa, o empresário disse a Temer que precisaria de ajuda do Planalto para vencer um processo administrativo contra a Petrobras no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O presidente, então, indica Rocha Loures como interlocutor de sua “estrita confiança” para atender à demanda do grupo J&F. Em encontro com o aliado de Michel Temer, Joesley prometeu que a ajuda renderia 500.000 reais semanais em propina durante 20 anos. 

No dia 18 de abril, Rodrigo Rocha Loures foi flagrado pela Polícia Federal ao sair de uma pizzaria nos Jardins, em São Paulo, com uma mala recheada com 500.000 reais entregue pelo diretor de relações institucionais da JBS e também delator, Ricardo Saud. Rocha Loures acabou devolvendo o dinheiro no último dia 25. 

Nenhum comentário: