segunda-feira, 26 de junho de 2017

J&F, dos bucaneiros caipiras da família Batista, está negociando a venda da Havaianas para fundo da família Moreira Salles


 A J&F Investimentos, que pertence aos bandidos bucaneiros caipiras Joesley e Wesley Batista, e o fundo Cambuhy Investimentos, fecharam acordo de confidencialidade para possível aquisição de participação na Alpargatas, disse a fabricante de roupas esportivas e calçados em fato relevante divulgado nesta segunda-feira. O Cambuhy tem entre seus sócios a família Moreira Salles, fundadora do Unibanco, que foi comprado pelo Itaú em 2008.

Segundo o comunicado, o acordo foi celebrado em 23 de junho e a J&F manterá a Alpargatas informada sobre o andamento das negociações ou a assinatura de quaisquer contratos vinculantes. De acordo com fontes de mercado, o fundo negocia oferta pela fatia de 86% que a J&F detém na Alpargatas, dona das marcas Havaianas e Osklen. 

O grupo J&F, controlado pelos irmãos Wesley e Joesley Batista, passa por grave crise por causa das investigações de corrupção na empresa. Joesley Batista é autor de delação premiada que incluiu denúncias contra o presidente Michel Temer. Além da Alpargatas, já estão em processo de venda a Vigor Alimentos e linhas de transmissão de energia. A holding analisa ainda vender a Eldorado, empresa de celulose, e a Flora, de produtos de limpeza.

O plano de venda de ativos apresentado pela empresa propineira JBS pode chegar a R$ 6 bilhões, incluindo operações na Europa. Esse montante irá se somar ao R$ 1 bilhão da venda dos frigoríficos no Mercosul para a empresa açougueira Minerva. Estão no plano de desinvestimentos a fatia de 19,2% da empresa de laticínios Vigor, a participação na Moy Park, que atua na Europa no segmento de frangos e alimentos processados, e a alienação dos ativos da Five Rivers Cattle Feeding, que inclui áreas de confinamento e fazendas nos Estados Unidos e Canadá. Esse programa precisa ser aprovado pelo Conselho de Administração e o BNDESPar. 

Com a venda, a empresa espera melhorar o seu nível de endividamento. Em março, a dívida líquida da empresa estava em R$ 47,8 bilhões, um leve crescimento de 1,9% na comparação com o registrado 12 meses antes. A dívida bruta, que desconsidera valores em caixa, estava em R$ 58,6 bilhões, sendo 92,2% atrelada à moeda americana devido às linhas de exportação.

Relatório da agência de classificação de risco Standard & Poor's afirma que a capacidade de pagar suas dívidas está vinculada à venda de ativos. Para a agência, as investigações de corrupção na empresa trazem riscos à flexibilidade financeira do grupo e ao seu refinanciamento no mercado.

Além disso, a assinatura de um acordo de leniência da J&F, com multa no valor de R$ 10,3 bilhões, ampliou a dívida ajustada da empresa, que consiste atualmente de R$ 4,2 bilhões de dívida própria e cerca de R$ 7 bilhões de garantias fornecidas a subsidiárias, principalmente à Eldorado. Para a agência, as investigações de corrupção também destacam a inabilidade do grupo para implementar controles internos e de tolerância ao risco, indicando uma deficiência de governança que pesa sobre seu perfil de risco.

Na negociação da Alpargatas com o Cambuhy, a equipe é comandada pelo banqueiro Marcelo Medeiros, ex-Garantia (banco da própria JBS) e um dos sócios-fundadores do fundo. Pedro Moreira Salles é o outro sócio-fundador e co-diretor-executivo do Cambuhy, além de Marcelo Pinto Duarte Barbara (sócio-fundador), Pedro Luiz Bodin de Moraes (sócio-fundador), Guilherme Bottura (sócio). Bodin ocupou a diretoria de Política Monetária do Banco Central entre junho de 1991 e dezembro de 1992, sob gestões de Francisco Gros e Gustavo Loyola (governos de Fernando Collor de Mello e Itamar Franco). No fim de 2002, ele era um dos nomes mais prováveis para assumir a presidência do Banco Central no primeiro governo Lula, que começou em 2003, mas o cargo acabou sendo assumido por Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda. 

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