Vírus modificados geneticamente podem ser a estratégia do futuro para combater superbactérias – microrganismos que são resistentes a vários tipos de antibióticos. É isso que indica um estudo apresentado na última semana durante a CRISPR 2017 Conference, nos Estados Unidos. Segundo pesquisadores, utilizando a técnica de edição genética CRISPR, é possível fabricar vírus bacteriófagos (um tipo que infecta apenas bactérias) para atacar micróbios super-resistentes e fazer com que eles destruam seu próprio DNA.
Tratamentos com esse tipo de vírus, que existem na natureza, já são usados para curar nossas infecções, principalmente porque eles infectam espécies específicas de bactérias e têm menos impacto na microbiota humana (nome dado ao conjunto de bactérias de nosso organismo) do que os antibióticos convencionais. Porém, os avanços nessa terapia têm andado a passos lentos, uma vez que esses microrganismos, por ocorrerem naturalmente, não podem ser patenteados. Além disso, as bactérias costumam se tornar resistentes muito rapidamente aos vírus, fazendo com que os pesquisadores tenham que isolar constantemente novos tipos que sejam capazes de combater uma mesma espécie. Por isso, a expectativa é que modificar os vírus geneticamente evite tanto a resistência quanto o problema da patente.
A técnica CRISPR, que será usada para editar os vírus, foi inventada por pesquisadores 25 anos atrás, pensando em uma propriedade que as bactérias já usavam para matar bacteriófagos invasores. Ela se inspira no que seria o equivalente ao sistema imune dos microrganismos, também chamado de CRISPR, que corresponde a sequências de DNA repetidas. A técnica possibilita que partes do genoma sejam recortadas, deletadas e substituídas como se fossem arquivos digitais de computadores.
O objetivo dos cientistas é utilizar esse tipo de edição genética para fabricar vírus capazes de danificar o gene da resistência nas bactérias — ou seja, utilizar a estratégia das bactérias contra elas. “Vejo algo de irônico em usar a técnica para matar bactérias”, brincou o diretor científico da empresa Locus Biosciences, Rodolphe Barrangou, durante a conferência. A companhia é uma das que está apostando na nova técnica para combater infecções super-resistentes.
Testes clínicos utilizando essa metodologia devem ser iniciados em 2018. Ainda assim, os cientistas afirmam que experimentos iniciais já obtiveram sucesso em salvar camundongos de infecções por superbactérias que, do contrário, poderiam ter levado os animais à morte. Além desse uso, cientistas que participaram da conferência e representantes de outras marcas acreditam que CRISPR pode ser usada para moldar a flora intestinal, selecionando apenas alguns tipos de bactérias e editando nossa microbiota.
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