O ex-executivo da Odebrecht, Fernando Migliaccio afirmou, em sua delação premiada, que a empresária Mônica Moura informou a então presidente Dilma Rousseff sobre pagamentos de serviços da campanha eleitoral de 2014 via caixa 2. Segundo ele, a mulher do ex-marqueteiro do PT, João Santana, afirmou ter "avisado a moça", em referência a Dilma, sobre depósitos feitos pela empreiteira em contas do casal no exterior. Migliaccio disse ter feito repasses a Mônica por campanhas em seis países. O acordo de colaboração premiada do ex-executivo firmado com o Ministério Público Federal perdeu o sigilo anteontem por decisão do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Migliaccio, que foi já preso na Suíça por tentar, segundo autoridades do país europeu, fechar contas bancárias e retirar pertences de um cofre de uma instituição financeira, apresentou também detalhes do funcionamento do Setor de Operações Estruturadas - o "departamento da propina" da Odebrecht. A Suíça havia aberto procedimento independente para apurar a ligação de Migliaccio com movimentações do Grupo Odebrecht no país europeu. Em um dos termos da delação, Migliaccio afirmou que, no primeiro semestre de 2015, com a Lava Jato em andamento, foi questionado por Mônica sobre pagamentos em dólares no exterior, em contas mantidas na offshore Shellbill. Migliaccio disse que, após confirmar os depósitos, Mônica expressou preocupação com as investigações. "Vou avisar a presidente, pois agora tem como chegar (a Lava Jato) na gente", disse ela, segundo o relato do ex-executivo. "Semanas depois, Mônica Moura informou ao depoente (Migliaccio) que havia avisado ‘a moça’ (Dilma) sobre os pagamentos realizados no Exterior pela Odebrecht", constou do termo do depoimento do delator. O ex-executivo relatou ainda ter efetuado repasses de valores não contabilizados a Mônica por campanhas eleitorais em países como Angola, República Dominicana, Panamá, Venezuela e El Salvador, além do Brasil. O relato de Migliaccio tem conexão com informações dadas por Mônica Moura em sua delação premiada, quando ela disse que Dilma sabia dos pagamentos via caixa 2 feitos pela Odebrecht no Exterior. O ex-marqueteiro do PT, João Santana e Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, ambos delatores, também afirmaram que a presidente cassada tinha conhecimento dos depósitos. O doleiro Alberto Youssef, um dos primeiros delatores da Lava Jato, já disse que a petista sabia do esquema de corrupção e desvios na Petrobras. Em sua decisão, o ministro Fachin determinou que a Caixa Econômica Federal abra uma conta bancária para o depósito de R$ 5 milhões em nome de Migliaccio - valor referente à multa acertada na delação, feita de maneira separada da dos outros 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht. O relator da Lava Jato no Supremo determinou remessa ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, de 13 termos de colaboração do delator. O ministro também autorizou que três inquéritos em tramitação no STF recebam cópias de trechos da delação: um que já tem a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) como investigada pelo suposto repasse de propina da Odebrecht, outro que apura pagamentos feitos pelo grupo ao ministro Gilberto Kassab (PSD) entre 2008 e 2014, e um outro inquérito sigiloso que, de acordo com a Procuradoria Geral da República, apura valores indevidos supostamente recebidos pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
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