A Venezuela anunciou nesta quarta-feira (26) a saída da OEA (Organização dos Estados Americanos), minutos depois de ser aprovada pelo organismo uma reunião de chanceleres sobre a crise no país. O movimento é inédito na OEA, criada em 1948. O encontro recebeu o apoio de 19 dos 34 países membros, incluindo o Brasil. Nele, os ministros avaliariam se Caracas seria suspensa do bloco por considerarem que o governo do presidente Nicolás Maduro violou a Carta Democrática Interamericana.
Em discurso na TV estatal, a chanceler Delcy Rodríguez disse que a votação foi mais um indício da intenção da OEA de fazer uma intervenção liderada pelos americanos para derrubar o chavista. "Sabemos que por trás do conclave deste grupo há a intenção de intervir e tutelar nosso país, o que nunca acontecerá. Esses países mercenários e lacaios apoiaram a política para limitar o direito da Venezuela ao futuro". Rodríguez chama de "mercenários e lacaios dos EUA" os países latinos que votaram a favor da reunião de chanceleres e criticam Maduro. Para a ministra, o avanço da violência nos protestos se deve à declaração da OEA tratando como violação a sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que tirava poderes do Legislativo, dominado pela oposição. O texto foi aprovado em 3 de abril e todas as 29 mortes nas manifestações ocorreram após essa data. "Foi justamente a ação que deu origem a essa onda de violência em que a direita achou que tinha permissão para fazer o que quisesse na nossa pátria". Ao comentar as críticas da OEA às violações de direitos humanos do governo Maduro, citou que a entidade não se pronunciou sobre "a retirada de direitos" na Argentina, a violência no México e "a ditadura do Brasil". Horas depois, Maduro referiu-se à saída como um "passo gigante para acabar com o intervencionismo imperial". "A Venezuela bolivariana, revolucionária e chavista continuará o caminho rumo a nossa verdadeira independência e nada nem ninguém vai nos deter." Segundo Rodríguez, Caracas apresentará nesta quinta-feira (27) a solicitação de saída, cujo processo estima levar 24 meses. Na terça-feira (25), o governo venezuelano ameaçara abandonar a organização. Para a oposição, deixar a OEA é mais um exemplo de que o chavismo deu um golpe de Estado. "É a constatação do medo ao voto", disse o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges. Outros lembraram que, antes do fim do processo, devem ocorrer eleições presidenciais. "Nesta época esta cúpula narcocorrupta estará na lata de lixo da história", disse o ex-presidenciável opositor Henrique Capriles. A reunião da OEA foi aprovada por Argentina, Barbados, Bahamas, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, EUA, Honduras, Guiana, Jamaica, Guatemala, México, Panamá, Paraguai, Peru, Santa Lúcia e Uruguai. O governo afirmou que não irá mais a encontros com estes países. Dez membros foram contra: Antígua e Barbuda, Bolívia, Dominica, Equador, Haiti, Nicarágua, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname e Venezuela —aliados de Maduro ou beneficiários do petróleo venezuelano. Quatro se abstiveram: Belize, El Salvador, República Dominicana e Trinidad e Tobago. O embaixador de Granada não foi à votação. A data e o lugar onde ocorrerá a reunião de chanceleres ainda serão definidos. A Venezuela parece cumprir a ameaça feita desde que Hugo Chávez (1954-2013) era presidente. Ele disse em 2009 que o órgão era "empregado do imperialismo ianque". Três anos depois, declarou que deixaria a Corte Interamericana de Direitos Humanos após seu governo ser criticado. Chávez fomentou a criação de alternativas à OEA. Dentre elas, a Celac, onde, a pedido de Caracas, a crise venezuelana será discutida em reunião no dia 2 em El Salvador.
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