Mais de 3,4 mil imóveis localizados nas áreas mais caras de São Paulo, avaliados em cerca de US$ 2,7 bilhões, pertencem a empresas ligadas às offshores — corporações abertas nos chamados paraísos fiscais, países que oferecem isenções de impostos, taxas e ainda mantém sob sigilo o nome do proprietário. Esta constatação foi feita pelo estudo da Transparência Internacional, com sede em Berlim, na Alemanha. A ONG suspeita de lavagem de dinheiro oriundo de desvios dos cofres públicos. De acordo com o levantamento, 236 empresas em regime de offshore detêm 3.452 propriedades, em São Paulo, onde estão as sedes de mais da metade (65%) das companhias estrangeiras no Brasil. Em seu relatório, a ONG destaca que essa concentração se deve ao fato da presença na capital paulista da maior bolsa de valores da América Latina, a atual B3 (ex-BM&F Bovespa), que atrai os investidores para imóveis de grande valorização no mercado. Mais da metade dessas empresas (87%) estão registradas em cinco localidades: nas lhas Virgens Britânicas, no Uruguai, nos Estados Unidos, no Panamá e na Suíça. Segundo o estudo, recursos originados de corrupções são aplicados em offshores, nas Ilhas Virgens Britânicas e no Panamá, onde o anonimato no registro de empresas facilita que "corruptos driblem autoridades fiscais e policiais". A ONG acrescenta que em 70% dos 200 grandes casos de corrupção analisados pelo Banco Mundial, os arranjos corporativos secretos, como trusts e empresas offshore foram utilizadas para lavagem de dinheiro e para esconder o proprietário dos ativos adquiridos. A estratégia desses corruptos foi investir em imóveis que, conforme a ONG, têm risco relativamente baixo o que permite a lavagem de dinheiro de grandes quantias em única operação. "Como os verdadeiros donos estão escondidos, não se sabe ao certo o montante de propriedades compradas com recursos da corrupção", cita o relatório. No estudo, a Transparência Internacional citou o caso do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, preso em 2015, por participar do esquema de corrupção na Petrobras. A ONG lembra que Cerveró foi sentenciado a cinco anos de prisão por comprar um apartamento de luxo no valor de US$ 2,4 milhões, no Rio de Janeiro, com recursos de propina e para isso utilizou uma empresa offshore. O estudo alerta que" investidor offshore age por meio de "profissionais facilitadores" — advogados, contadores e corretores — que podem controlar pessoas jurídicas no Brasil e, por meio dessas, comprar jóias, iates e propriedades imobiliárias. Essas operações, muitas vezes, tentam ocultar os proventos e rastros da grande corrupção".
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