A grande quantidade de venezuelanos que entram no Brasil fugindo da crise política e econômica do país vizinho tem impactado os serviços de saúde em Roraima, segundo relatório divulgado nesta terça-feira (18) pela organização não governamental (ONG) Human Rights Watch. A partir de dados oficiais, a organização caculou que 12 mil pessoas vindas da Venezuela entraram no País desde 2014, sendo que 7,1 mil somente de janeiro a novembro de 2016. O relatório revela que, nos principais hospitais de Roraima, é cada vez maior o número de pacientes vindos da Venezuela. No hospital de Pacaraima, cidade fronteiriça, informações coletadas pela ONG mostram que 80% dos atendidos são venezuelanos. “Alguns insumos médicos essenciais, como gaze, soros intravenosos, seringas e medicamentos básicos, como paracetamol para crianças, estão com estoque criticamente baixo”, diz o estudo. A busca por atendimento médico é justamente uma das razões apontadas por grande parte dos 65 venezuelanos entrevistados para vir para o Brasil. No Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, principal equipamento de saúde do estado, foram atendidos 7,6 mil venezuelanos de janeiro a dezembro do ano passado. “Profissionais de saúde brasileiros afirmaram que os venezuelanos costumam chegar aos hospitais em condições mais graves do que os brasileiros, já que não receberam o tratamento adequado no país de origem”, enfatiza o documento, referindo-se a complicações decorrentes de doenças como HIV, tuberculose e malária. O percentual de internação dos brasileiros recebidos no hospital geral é de 7% e o de venezuelanos , de 20%. Outros países sul-americanos têm registrado aumento significativo de imigrantes da Venezuela. Na Argentina, o número de concessões de residência temporária para venezuelanos aumentou de 1.777, em 2014, para 4.707, em 2015. No Chile, foram concedidos 1.463 vistos em 2013 e 8.381 em 2015. No Peru, foram registrados 180 venezuelanos em 2013, 1.445 em 2015 e 1.543 em 2016. Além do crescimento das entradas no Brasil, subiu expressivamente o número de pedidos de refúgio para venezuelanos, chegando a 2.595 de janeiro a novembro do ano passado, contra 54 em 2013. A Human Rights defende o reconhecimento da situação de crise humanitária e a aceitação de ajuda internacional pelo governo da Venezuela, comandado por Nicolas Maduro. “Primeiro, um reconhecimento de que ele está vivenciando uma crise de forma transparente abre o país para ajuda humanitária internacional, de agências da própria ONU”, destacou a diretora da ONG no Brasil, Maria Laura Canineu. De acordo com o pesquisador da organização César Muñoz, que conduziu o trabalho de campo, apesar do desabastecimento de remédios e alimentos no país vizinho, os entraves burocráticos ainda dificultam a chegada de tais produtos. “É difícil para qualquer um enviar medicamentos para a Venezuela. Todos nós sabemos da situação dramática dentro da Venezuela, e ainda assim os obstáculos burocráticos são enormes”, acrescentou. Para Maria Laura, o Brasil e outros países devem fazer pressão para que a Venezuela aceite ajuda internacional de modo a minimizar o impacto dos problemas econômicos e da crise política sobre a população. “A única maneira de resolver o problema é ter uma pressão internacional. Já houve indícios de que a pressão internacional pode minimizar os prejuízos à população dentro da Venezuela, que está sofrendo desde o início dessa crise".
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