sexta-feira, 17 de março de 2017

Doleiro Alberto Youssef, peça-chave da Operação Lava Jato, ganha a liberdade após três anos de prisão


Exatos três anos após ser preso pela Polícia Federal em um hotel em São Luís (MA), na primeira fase da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef "progrediu" nesta sexta-feira ao regime aberto. Depois de dois anos e oito meses preso no Paraná, entre a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, e o Complexo Médico Penal de Pinhais, Youssef, um dos principais delatores da operação, voltará à capital paranaense para retirar a tornozeleira eletrônica e, enfim, poder ir e vir sem restrições, a trabalho ou lazer. Os advogados dele não comentam a quais atividades o doleiro se dedicará a partir de hoje, quando voltar a São Paulo, onde cumpria prisão domiciliar há quatro meses. Limitam-se a dizer que ele busca recomeçar a vida longe dos holofotes da imprensa. Desde novembro, o delator passa os dias em um apartamento de cerca de 50 metros quadrados com vista para o Parque do Ibirapuera na Vila Nova Conceição, bairro nobre da zona oeste da capital paulista. Este será o segundo “recomeço” de Youssef. Ele foi preso e condenado no caso Banestado, que veio à tona em 1998, por crimes contra a ordem tributária, evasão de divisas, formação de quadrilha e corrupção ativa nas fraudes no antigo Banco do Estado do Paraná (Banestado), que envolveram cerca de 30 bilhões de dólares. Foi nessa época que Youssef conheceu o rigor da caneta do juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos do Banestado e da Lava Jato. “Eu sou homem de ter coragem de mamar em uma onça, mas o único homem de quem eu tenho medo nesta terra se chama Sergio Moro”, revelou o doleiro em entrevista ao jornalista Vladimir Netto, autor do livro Lava Jato (Primeira Pessoa, 2016). Com duas condenações no Banestado, cujas penas totalizam onze anos e quatro meses de prisão, o doleiro só se safou de uma longa temporada na cadeia ao firmar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro de 2014. O compromisso de se afastar da vida criminosa não prosperou, no entanto, como mostra o escândalo da Petrobras investigado na Lava Jato. Diante da reincidência do doleiro, Moro resolveu rescindir seu acordo de colaboração do Banestado e condená-lo no caso, em setembro de 2014, a quatro anos e quatro meses de prisão. “(Youssef) teve sua grande chance de abandonar o mundo do crime com o acordo de colaboração premiada, mas a desperdiçou, como indicam os fatos que levaram à rescisão do acordo”, afirmou o magistrado. O juiz Sérgio Moro foi obrigado a rescindir o contrato de delação premiada do doleiro Alberto Youssef na Operação Banestado porque o Supremo Tribunal Federal tinha concedido um habeas corpus a ele, para soltá-lo da prisão na Operação Lava Jato. Com a delação rescindida da Operação Banestado ele então passou a cumprir pena daquele processo e não podia ser libertado por nenhum habeas corpus. Foi então que ele decidiu fazer nova delação premiada, desta vez na Operação Lava Jato, para evitar passar o resto da sua vida na cadeia. E conseguiu uma segunda “grande chance” ao firmar o segundo acordo da Lava Jato – ele só não foi mais rápido que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, seu amigo de longa data. Em seus depoimentos à força-tarefa do Ministério Público Federal, Alberto Youssef relatou como – e a quem – encaminhava remessas de propina de contratos da Petrobras com empreiteiras. O doleiro e seus “funcionários” cruzavam o País para entregar malas recheadas com dinheiro vivo ou faziam depósitos no Exterior por meio de empresas offshore. Entre os políticos citados por Alberto Youssef aos procuradores estão os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Fernando Collor de Melo (PTC-AL), os ex-ministros Antonio Palocci e José Dirceu, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e deputados de PT, PP e PMDB. As revelações do doleiro sensibilizaram Moro. Ao condenar Youssef pela primeira vez na Lava Jato, em abril de 2015, a nove anos e dois meses de prisão, o juiz ponderou que “ainda que o colaborador seja um criminoso profissional e mesmo que tenha descumprido acordo anterior, como é o caso de Alberto Youssef, se as declarações que prestou soarem verazes e encontrarem corroboração em provas independentes, é evidente que remanesce o valor probatório do conjunto”. Esta foi uma das nove sentenças condenatórias que o magistrado assinou contra o doleiro, réu em 14 ações penais da Lava Jato. O total das penas é de intermináveis 132 anos e 20 dias de prisão. A 5ª cláusula de seu acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal prevê, no entanto, que as penas dos processos sejam suspensas quando transitarem em julgado condenações que somem 30 anos de prisão. Graças a esta condição, Youssef já teve suspensas três sentenças. Ele também acabou absolvido em outros três processos e teve uma ação penal extinta sem julgamento de mérito.

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