O que está em curso no Espírito Santo é muito mais grave do que parece. E o Estado brasileiro tem de ter a consciência dessa gravidade para fazer a coisa certa. Em princípio, a reação foi rápida. A tal associação de soldados e bombeiros decretou a greve na sexta-feira, o caos já se instaurou no sábado, e, no domingo, o Exército foi chamado, junto com a Força Nacional de Segurança, que chegou já na segunda-feira. Mas esse é apenas o fragmento mais urgente da narrativa. A questão é mais grave. Os danos a que estamos assistindo no Espírito Santo não dão conta do perigo. Não custa lembrar. Não é apenas a Federação que está quebrada. A maioria dos Estados também se encontra na lona em razão da mesma crise, fabricada meticulosamente pelo PT. Isso tira dos governadores margem de manobra para realocar gastos mesmo em situações emergenciais. É o fim da picada que esteja acontecendo essa coisa miserável justamente no Espírito Santo, um Estado que vem dando encaminhamento satisfatório à explosiva questão dos presídios, e cujo governador, o bom Paulo Hartung, se deixou pautar pela responsabilidade fiscal. Vejam que coisa. Nem tive tempo de tentar saber quanto ganha um policial militar no Espírito Santo. Mas deve ser pouco. Até outro dia, só o Distrito Federal pagava um bom salário a seus policiais. Explica-se: quem arca com a conta é o governo federal. Caso se tomasse aquele valor como parâmetro, os Estados quebrariam. Notem: a Força Nacional de Segurança e o Exército já se encontram nas ruas. Mesmo assim, as ocorrências criminosas se multiplicam. Afinal, não se tem o mesmo efetivo, com a mesma capilaridade, com o conhecimento da região. Sim, os militares têm de estar lá. Mas sempre há o risco de alguém dizer: “Ih, nem com o Exército resolve”, o que confere aos bandidos um poder suplementar. Aliás, é bom chamar a atenção para um dado da realidade. Boa parte dos saques, por exemplo, não é praticada por bandidos profissionais. Nada disso! Pessoas comuns, com emprego e carteira assinada, dada a ausência de autoridade, resolve invadir a loja e tomar o que as faz felizes. E pronto! Não duvido que seja gente que, indagada a respeito, dirá que lugar de bandido é a cadeia. Há um tanto da crise social aí? Há. Mas pouco. Pobre não está a um passo de ser criminoso. Isso é preconceito. O que conta é outra coisa: as várias culturas do planeta, quase sem exceção, não garantiram ao Estado o monopólio do uso da força por acaso. Você não precisa ser um hobbesiano empedernido para saber que, no estado da natureza, o homem é o lobo do homem. O que de aparentemente mais cruel os outros animais fazem por necessidade, instinto e determinação genética, nós, os humanos, fazemos por ardil. O que isso quer dizer? O primeiro passo é reinstaurar a ordem. E isso precisa ser feito com a punição imediata nos grevistas, na forma da lei. Os policiais militares que lideram essa greve têm de ser presos imediatamente, na forma da lei. Estão submetidos à mesma disciplina das Forças Armadas. E, se isso implicar em risco de aumento da crise, com a possibilidade de ela se espraiar, bem, dizer o quê? Que as Forças Armadas, aplaudidas pela população, cumpram seu papel Constitucional, previsto no Artigo 142 da Constituição. Há sinais de inquietude na Polícia Militar do Rio de Janeiro. Aqui e ali, outras ameaças surgem. Bem, não há negociação com quem foi armado pelo Estado e contra ele se volta — e contra a população também! —, unindo-se objetivamente ao crime organizado. Militares não podem criar sindicatos. Infelizmente, abusa-se de firulas legais para organizar associações que… funcionam como sindicatos. O primeiro passo é reinstaurar a ordem, com a prisão imediata de militares grevistas. Para que fique claro ao País qual será o procedimento. O segundo é considerar a possibilidade de uma intervenção mais ampla e duradoura. E há uma terceira questão: o governo federal tem de tomar a iniciativa de formar uma comissão, a mais ampla e representativa possível, para estudar uma fonte de financiamento para a Segurança Pública. A resposta pode ser no médio prazo. Mas constatar essa fragilidade essencial é para anteontem. Por Reinaldo Azevedo
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