segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Lula se chama de candidato e diz que "massacres são fruto do que foi feito"


Parecia um ato falho. Após vinte minutos de discurso na quinta-feira (12), em Brasília, o poderoso chefão da orcrim petista e ex-presidente Lula se chamou de "candidato" para, em seguida, corrigir-se e voltar ao costumeiro condicional: "Se cuidem, porque se eu voltar para ser candidato a presidente da República é para fazer mais do que fizemos". Lula elencava realizações de seu governo durante discurso no 33º Congresso Nacional da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) quando deixou os óculos escaparem das mãos ao tentar alcançá-los para consultar alguns dados. E brincou: "Esse país já fez tanta coisa que o candidato não consegue segurar os óculos". Entre ataques ao governo do presidente Michel Temer e a defesa do que diz ser o legado petista, o ex-presidente disse que é preciso "ter consciência" de que o PT "está perdendo" e fez uma rápida análise sobre a crise carcerária pela qual o país está passando. Para ele, o caos nos presídios do Norte, que matou 99 pessoas em uma semana, é fruto do que foi "plantado". "A gente está colhendo o que foi plantado há muito tempo. Vocês ficam revoltados porque um jovem de 25 anos foi preso? Quem é o culpado pelo jovem preso? O que deram de oportunidade quando ele tinha sete ou nove anos? Se eu não dou educação, oportunidade para trabalhar, essa pessoa vai fazer o que na vida?", questionou. Segundo Lula, a política carcerária no Brasil serve para "piorar a vida" do preso. O cara é um grande crápula, porque ele e seu partido ficaram 12 anos na sequência no poder e nada fizeram para mudar a situação que ele critica. "O cara que roubou uma galinha, sai pior da cadeia", disse o petista, citando dados divulgados pela presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, sobre o custo anual de um estudante da rede básica de ensino ser "treze vezes menor" que o custo por ano com um presidiário. O ex-presidente, mais uma vez, pediu eleições diretas ainda em 2017 e disse que o presidente da República só terá credibilidade se for eleito pelo povo. "Precisamos ter consciência de que estamos perdendo e, para tentar recuperar esse país, é preciso que tenha alguém com credibilidade. E só terá credibilidade alguém eleito, não alguém que chegou ao poder pela porta dos fundos. Todo mundo pode ser presidente, mas quer ser presidente vai disputar eleição", afirmou. A presença de Lula no evento faz parte de uma estratégia do ex-presidente de percorrer o País para tentar reconstruir sua própria imagem e a de seu partido, o PT, muito desgastadas pelas acusações de corrupção. Lula é réu em cinco ações penais, três delas da Operação Lava Jato. Nos bastidores, dirigentes petistas pressionam para que Lula se lance candidato à Presidência antes de uma possível condenação pela Justiça, que o tornaria inelegível. O ex-presidente, por sua vez, ainda reluta em oficializar sua disposição para concorrer ao Planalto, mas permitirá que isso seja feito, mesmo que informalmente, por movimentos sociais e sindicais durante eventos pelo País. O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), por exemplo, iniciou seu discurso no congresso de educação em Brasília pedindo eleições diretas ainda em 2017. Em seguida, brincou com o jingle que ficou famoso durante a campanhas presidencial de Lula em 1989: "É Lula lá". O discurso oficial é o de que o petista pretende reconectar a legenda com sua base histórica, alijada do poder principalmente durante o governo Dilma Rousseff. Na quarta-feira (11), em Salvador, Lula defendeu a antecipação das eleições de 2018 para outubro deste ano e afirmou que o PT "não deve ter vergonha" de dizer que quer um novo pleito para escolher o presidente da República. Ele disse que "se necessário" voltaria a disputar o Planalto. Logo nos primeiros segundos de seu discurso, Lula foi alvo de protestos de um pequeno grupo de representantes da CPS (Central Sindical e Popular), que gritava "fora, todos", empunhando bandeiras e adesivos com os mesmos dizeres. 

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