Leia com atenção este artigo escrito pelo advogado brasileiro Francisco Milman, nascido em Porto Alegre, que emigrou para Israel nos primeiros dias deste mês de janeiro. Tivemos um jantar de despedida, eu, seu pai, meu amigo jornalista e filósofo Luis Milman, e sua mãe, jornalista Vera Rowe, às vésperas de seu embarque. Vera acendeu a penúltima vela de Chanuká nesse dia. Agora, já instalado em Jerusalém, Francisco Milman manda um forte depoimento do sentimento dominante entre os israelenses diante dos atentados de que são vítimas todos os dias, promovidos por árabes islâmicos. Leia com toda a atenção.
Faz uma semana que estou em Israel. No último domingo, oito de janeiro, como todos sabem, houve um atentado terrorista praticado por um árabe-israelense, ou seja, um cidadão israelense que vive e aqui usufrui de todas as benesses que um estado de direito democrático e desenvolvido pode oferecer. Eu estava próximo ao atentado, na estação central de ônibus de Jerusalém, a algumas quadras do ocorrido. Percebi que muitos dos soldados israelenses que passavam por mim estavam cabisbaixos. Alguns choravam. Afinal, o ataque teve como alvo um grupo de jovens soldados, homens e mulheres, que faziam uma excursão turístisca. Quatro soldados, três mulheres e um homem, morreram na hora. O ataque se deu por meio de um caminhão que o terrorista árabe lançou sobre os jovens, covardemente. O que me chamou a atenção foi que presenciei uma conversa entre um soldado que recém perdera seus companheiros e uma menina que me atendia numa agencia de telefonia. Nessa conversa, o soldado dizia para ela que não compreendia esse ato de terror, pois não sabem eles (os terroristas), disse o soldado, que quanto mais nos atacam, mais Israel se fortalece, mais a nação se solidariza com as vítimas e mais o povo judeu deseja dar segurança a todos os seus irmãos israelenses? A conversa me tocou. Senti algo que nunca senti no Brasil, o sentimento de pertencimento, de fazer parte de algo maior que dá sentido às coisas. Aqui em Israel, ainda bem, morrem pouquíssimas pessoas por meio da violência, seja devido ao terrorismo, seja devido a crimes comuns ( que apresentam índices irrisórios); mas se percebe claramente a sensação de que uma vida tem muito valor e é tarefa de todos, desde o soldado e do policial, até o vendedor de falafel (lanche típico de Israel) proteger uns aos outros e ajudarem como puderem. A perda de uma vida aqui é intolerável, é algo que gera consternação em todos. Sente-se a irresignação com a injustiça por parte de cada um. Para quem está vindo de fora, até parece haver um paradoxo, pois ao mesmo tempo que uma tragédia dessas acontece e o pais mantém sua normalidade social – no sentido de que a vida no dia-a-dia continua normalmente – as pessoas em todos os lugares possuem plena consciência da importância de honrar seus mortos e sentem profundamente suas perdas. Tal paradoxo é de fato, apenas aparente: Israel é um pais que não pode se dar ao luxo de ser abalado, ele precisa reagir imediatamente. É por isso que os inimigos de Israel nunca prevaleceram, porque Israel sempre reagiu com força e rapidez. Enquanto as pessoas, de fato, sofrem pelas perdas em seus corações, ao mesmo tempo estão prontas, como parte de uma nação, para sobrepujar o inimigo e responder a ele com a força de um gigante. Não há, portanto, paradoxo algum; pelo contrário, é justamente essa capacidade de sofrer e sentir a dor próximo que faz de Israel um gigante invencível. Como brasileiro, senti vergonha, pois venho de um lugar antípoda a Israel. No Brasil, a violência e a morte são parte da rotina: assassinatos, estupros, maus tratos de todo tipo, chacinas, fazem parte da paisagem, tornaram-se rotineiros, comuns, banais, modo de vida aceitável, desde que não atinja “a mim”. Aí está o grande problema, esse egoísmo que permeia a sociedade brasileira é diretamente responsável pelo caos que tomou conta do Pais. Feliz de ter vindo à Israel!
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