Um dos maiores estudiosos em desastres aéreos do' Brasil é categórico. Ao criticar os profissionais que elaboraram o plano de vôo e que permitiram a decolagem do avião que levava a delegação da Chapecoense a Medellín, o piloto Ivan Sant'Anna afirma que os passageiros "foram assassinados" na Colômbia. Autor de livros sobre acidentes na aviação, o especialista postou em sua página no Facebook na quarta-feira, um dia após a queda da aeronave, que a tragédia foi um "homicídio com dolo eventual, cometido pelo piloto". Em seguida, continuou: "Caso tivesse sobrevivido, (o piloto) teria que pegar uma pena enorme pelo seu crime. Os jogadores da Chapecoense e os outros passageiros foram assassinados". Nesta sexta-feira, o escritor carioca disse outras duas pessoas também têm responsabilidade na morte de 71 pessoas: o despachante da empresa Lamia, Alex Quispe, que apresentou um plano de vôo estimando sua duração em quatro horas e 22 minutos e uma autonomia de vôo com exatamente o mesmo tempo, e a funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea (Aasana), em Santa Cruz de la Sierra, Celia Castedo Monasterio, "que liberou o vôo após ver esse documento absurdo". Assim como Quiroga, Quispe também morreu no acidente. Piloto amador de 76 anos, Sant'Anna dedicou três anos de sua vida para pesquisar o que aconteceu nos vôos de 11 de setembro de 2001. Referência no tema, também é autor de livros como Caixa-Preta, Perda Total e Plano de Ataque. Por coincidência, seu último livro, Vôo Cego, a ser lançado em janeiro, aborda um caso de um avião que caiu por falta de combustível. O desastre com a Chapecoense vai ganhar uma referência de última hora no exemplar. Diz ele sobre o acidente do Avro da Lamia: "Você apresentar um plano de vôo de quatro horas e 22 minutos com autonomia de vôo também de quatro horas e 22 minutos é homicídio. Isso não tem a menor chance de dar certo. É um crime. É mais do que incompetência". Ele também aponta os culpados: "O despachante da empresa LaMia (Alex Quispe), o piloto do avião (Miguel Quiroga) e a funcionária (Celia Castedo Monasterio, da Agência de Aviação da Bolívia) que liberou o voo. Nos áudios que foram divulgados dá pra perceber a incompetência extrema. A funcionária pergunta se o plano de vôo não está muito apertado, e a resposta do despachante é que o "piloto consegue fazer em menos tempo". Isso parece aviação dos anos 1920". Diz ele sobre deve ser o plano de vôo: "Deve constar o aeroporto de partida, o de destino e ainda um aeroporto alternativo em operação. O avião deve ter condições de voar até esse aeroporto alternativo e combustível suficiente para, pelo menos, mais 30 minutos no ar". E acrescenta: "No primeiro plano de vôo estava previsto reabastecimento em Cobija (cidade boliviana na fronteira com o Brasil). Mas, como a decolagem atrasou e naquele aeroporto não há sinalização noturna, o piloto decidiu não fazer parada. O correto, então, era fazer uma escala em Bogotá, mas teria que pagar algumas taxas. Custa caro pousar em um aeroporto". E conclui: "A queda do avião da LaMia vai servir como divisão entre a aviação aventureira e a aviação séria. O rigor vai aumentar, principalmente no futebol. O plano de vôo apresentado pelo despachante ou pelo piloto não tem como ser conferido. Conferir cada informação que consta ali, como peso, quantidade de combustível, combustível necessário, inviabilizaria a aviação. Isso vai continuar assim".
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