Se as expectativas medianas se confirmarem, a eleição presidencial corre o risco de ser uma corrida de nanicos. E se abre caminho para alguma figura carismática, de corte populista
Por Reinaldo Azevedo - E meu pingo final vai para 2018. Joaquim Barbosa, segundo quem o processo de impeachment de Dilma não passou de um grande conluio da classe política, está sendo sondado, informa a Folha, por vários partidos. Em Brasília, políticos estridentes, de segunda e terceira linhas, têm frêmitos de satisfação a cada vez que alguém fala da delação da Odebrecht e da sua esperada lista, que teria o poder de dizimar boa parte do que se passou a chamar por aí de “classe política”. Entenda-se: quando alguém fala nessa tal “classe”, incluem-se alguns presidenciáveis. Vale dizer: o político sem expressão, articulação, idéias, projeção, cuja voz é ouvida basicamente na paróquia ou em setores radicalizados, vê na eventual desgraça dos grandes e no nivelamento por baixo a oportunidade de chegar ao trono. Nem precisa vir o pior. Se as expectativas medianas se confirmarem, a eleição presidencial corre o risco de ser uma corrida de nanicos. E se abre caminho para alguma figura carismática, de corte populista, que vai, então, usar os instrumentos da política para falar contra a política. E, acreditem, é besteira achar que a esquerda é carta fora do baralho. Também a direita brucutu está no jogo. Eis o ponto: momentos como o que vivemos corroem pilares que sustentam a crença no sistema — e essa é sempre a hora em que o bobo diz: “Ah, esse sistema é podre mesmo! Precisa mudar tudo!” Errado! Esse sistema, a exemplo de qualquer outro, precisa ser permanentemente reformado. Movimentos de disrupção sempre punem os mais frágeis, os mais pobres, os mais vulneráveis. Não por acaso, costumam ser liderados por idealistas oriundos das elites. Quando se corrói o sistema de crenças, perde-se a previsibilidade. Tudo passa a ser possível. Tem-se uma intensa fermentação de ideologias exóticas, de sotaque higienizador, com apelos à ordem e a punições sumárias, em meio à desordem crescente. Os investidores, que precisam de estabilidade das regras, fogem ou congelam as suas apostas. E se alimenta o ciclo da crise. Estamos exatamente nesse ponto. Depois do desastre da era petista, os dois anos do interregno Temer deveriam — ou devem — ser dedicados a reformas estruturais e estruturantes que têm de passar necessariamente pelo Congresso, porque assim é o sistema. A chance de isso não acontecer, hoje, é gigantesca. Radicalizados de um lado e de outro, mas todos ainda inseridos no mercado, disputam espaço à beira do abismo. Os milhões de desempregados, por exemplo, ainda não reivindicaram o seu lugar na equação. Por enquanto, eles se manifestam apenas na vida degradada das periferias. O surto de irresponsabilidade e de sectarismo pode destruir o que restou do desastre protagonizado pelo petismo. Pode, inclusive, ressuscitá-lo.
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