terça-feira, 22 de novembro de 2016

Wilson Carlos, o desempregado milionário



Quando foi preso em seu apartamento na Gávea, na manhã do dia 17, o ex-secretário de Governo do Rio de Janeiro, Wilson Carlos Cordeiro da Silva Carvalho falou sobre o momento difícil que vivia. Desde abril de 2014, quando seu chefe Sérgio Cabral deixou o Palácio Guanabara, WC (para os íntimos) estava “desempregado, à procura de recolocação no mercado de trabalho”. Nem por isso ele deixou de gastar. Três meses após perder o emprego comprou um tapete silk de 5.400 reais, uma mesa de jantar com seis cadeiras por 10.670 reais e gastou outros 7.300 reais com luminárias. Tudo pago em dinheiro vivo. Desde a sua demissão, ele e a mulher, Monica Araújo, não economizaram no cartão de crédito, totalizando cerca de 256.000 reais em compras até aqui. Também não se desfizeram dos gastos extras, como o de manter a casa no luxuoso Resort Portobello, em Mangaratiba, que ele alega ser alugada por 4 000 mensais. Estes e outros mistérios da multiplicação do dinheiro levaram o juiz Sergio Moro a converter a prisão do braço-direito de Sérgio Cabral de temporária em preventiva. A investigação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal revela muito mais do que isso. Desde 2007, o casal vem mantendo uma vida de luxo, com uma média de gastos de mais de 19.000 reais em cartões de crédito. O total gasto já ultrapassa os 2,1 milhões de reais. Sem contar as compras em dinheiro vivo, ao que tudo indica, uma prática comum na quadrilha desbaratada pela Operação Calicute. Foi assim com os mais de 26.000 gastos para comprar móveis e outros itens da casa de Mangaratiba; foi assim gastando mais de 48.000 mobiliando a casa de Itaipava, em Petrópolis, que ele alega ser alugada por sua mãe. A movimentação financeira de Wilson Carlos e sua família impressiona. E adivinhem: quase sempre em dinheiro vivo. Nas quebras de sigilo bancário de sua mulher, os investigadores descobriram pequenas fortunas depositadas pela irmã do ex-secretário de Cabral, Carla Carvalho, pelo irmão Wilson Silva e até por sua mãe, Voleide Alves de Araújo. Monica recebeu em sua conta exatos 588 956 reais. “Pagamentos vultosos em espécie, embora não sejam ilícitos, constituem expediente comumente utilizado para prevenir rastreamento e ocultar transações financeiras.(…) Difícil vislumbrar, diante dos pagamentos em espécie e da estruturação, motivação lícita para a sua realização dessa forma, tratando-se, em cognição sumária, de expediente possivelmente destinado à ocultação dos valores e para dificultar rastreamento”, escreveu Moro na decretação da prisão. Na verdade Wilson Carlos e sua mulher se acostumaram à vida de glamour ao lado de Sérgio Cabral, o amigo desde os tempos do Colégio Bennet. Mesmo quando registrava, em média, 17.200 reais de renda mensal, eles não diminuíam a gastança. Em fevereiro de 2012 chegaram a gastar 36.749 num único cartão de crédito. Alugueis de limousine nos Estados Unidos, quartos com diárias de 580 euros em hotéis de Paris, jantares de 800 euros. Wilson Carlos sabia que podia gastar. Uma hora ou outra o dinheiro para bancar suas mordomias ia entrar. Para o Ministério Público Federal, tudo fruto de propinas de contratos públicos, ou seja, parte do rombo de 224 milhões que a quadrilha comandada por Sergio Cabral desviou. Entre compras de carros blindados e poltronas de 17.000 reais, os procuradores levantam suspeitas sobre a relação do homem forte de Cabral junto à Cara de Cão Produções Ltda. A produtora de conteúdo audiovisual prestou serviços para o PMDB em pelo menos três eleições. Na de Sérgio Cabral, em 2010, quando WC embolsou mais de 300 000 reais; para a campanha de Eduardo Paes à prefeitura em 2012 e para a campanha de Luiz Fernando Pezão ao governo do Estado, em 2014. Só nesta última, a empresa abocanhou mais de 21,8 milhões de reais (total chega a 36,7 milhões). O ex-secretário, mesmo sem qualquer conhecimento do tema, abocanhou 400.00 reais. “Há fortes indícios de lavagem de dinheiro através de campanha eleitoral de 2014”, escrevem os procuradores.

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