"A chamada para a oração muçulmana existe há 1.400 anos", afirma Mufid Chaouana, irritado com um projeto israelense destinado a abafar o conhecido canto do muezim, que, a partir da madrugada, anuncia em voz alta o momento das cinco preces diárias. Antes da eletricidade, os árabes usavam alto-falantes, por acaso? "Os judeus têm seus rituais, e é seu direito, sua lei religiosa", diz Mufid Chaouana, atrasado para a oração do amanhecer na Esplanada das Mesquitas. A chamada à oração ("adhan", em árabe) "é nosso direito religioso", insiste. Um projeto de lei em Israel quer proibir o uso de altos-falantes no início da manhã e tarde da noite, quando o "adhan" é recitado cinco vezes por dia, geralmente por meio de um sistema de sonorização, para chamar os muçulmanos à oração. Por aaso os árabes não sabem a hora de suas orações? Por que a necessidade do uso dos alto-falantes? Por acaso não existia a religião e as preces regulares nos horários demarcados antes da existência da eletricidade e dos alto-falantes? Oficialmente, o texto se aplica a todas as religiões. Para os palestinos que vivem em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, como para os árabes israelenses, o projeto é uma violação adicional dos seus direitos. O projeto tem provocado fortes protestos entre os muçulmanos, constantemente preocupados com as intervenções israelenses, principalmente na Esplanada da Mesquita (ou al-Aqsa), onde originalmente existia o Templo de Davi. reverenciado pelos judeus como Monte do Templo. O texto recebeu luz verde em novembro de uma comissão do governo. Ele foi bloqueado no último minuto antes da sua apresentação ao Parlamento, paradoxalmente, por iniciativa de um ministro judeu ultra-ortodoxo. Ele ficou assustado com a possibilidade de que a lei se volte contra os judeus e o uso da sirene para convidar os judeus para o shabbat, o descanso semanal. O destino do texto é incerto. Reduzir o volume das chamadas para a oração muçulmana não é uma ideia nova em Israel. Desta vez, o projeto alcançou, pelo menos temporariamente, um comitê ministerial e tem o apoio do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Israel tem a intenção de proteger aqueles que sofrem com o ruído excessivo dessas mensagens. Isso também acontece em muitas cidades europeias e em muitos lugares no mundo muçulmano", disse ele. O deputado Moti Yogev, promotor do texto, assegura que o volume de adhan incomoda centenas de milhares de pessoas. Ele também disse que, em alguns casos, os alto-falantes transmitem um discurso de ódio. Tal como está, a proposta pretende proibir os auto-falantes das 23h00 às 06h00. Palestinos e árabes israelenses protestaram. A Liga Árabe denunciou uma "provocação muito perigosa". Um parlamentar árabe-israelense lançou simbolicamente a chamada para a oração da tribuna do Parlamento, o que provocou a ira de seus colegas. Najih Qiraat, um clérigo, fez um sermão inflamado contra os planos israelenses em uma mesquita no bairro palestino de Beit Safafa, em Jerusalém Oriental. Beit Safafa faz fronteira com o bairro Pat, localizado em Jerusalém Ocidental, parte israelense da cidade. "Não podemos dormir, não podemos viver, é impossível, as pessoas aqui ficam loucas", afirma Eli Ben Cheman (74 anos), do bairro de Pat. Ayelet Sadeh, de 42 anos, diz que seu filho é incapaz de tirar um cochilo, acusando os muçulmanos de agir de forma maliciosa. Mas, com mais de 400 mesquitas em Israel e em Jerusalém Oriental, de acordo com números oficiais israelenses, a lei seria difícil de aplicar. Os deputados árabes israelenses disseram que receberam a promessa de que as igrejas iriam lançar o chamado à oração caso as mesquitas fossem impedidas.
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