sábado, 12 de novembro de 2016

Lava-Jato rastreia dinheiro para senadores do PMDB


Enquanto o Congresso tenta, em várias frentes, estancar a sangria desatada pelo escândalo do petrolão, a Operação Lava-Jato avança em direção à alta cúpula do PMDB no Senado. Investigadores rastrearam operações financeiras suspeitas de um lobista influente em Brasília que podem atingir em cheio lideranças peemedebistas. Documentos sigilosos da Procuradoria-Geral da República revelam que foram coletados “diversos elementos de prova da atuação de Milton de Oliveira Lyra Filho, diretamente ou por meio de pessoas jurídicas, como intermediário de propina e lavagem de dinheiro para senadores do PMDB, nomeadamente Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Romero Jucá, Valdir Raupp e Edison Lobão”. De acordo com procuradores da Lava-Jato, há indícios de que esse grupo de senadores do PMDB tenha se beneficiado de desvios de dinheiro da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e de fraudes nos investimentos realizados pelo Postalis, fundo de pensão dos trabalhadores dos Correios. O elo entre um esquema e outro, segundo os investigadores, é o empresário Milton Lyra, apontado como o operador do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), e lobista com bom trânsito entre senadores peemedebistas. Dono de uma rede de empresas em Brasília, Lyra realizou diversas movimentações financeiras atípicas com companhias enroladas na teia da Lava-Jato. Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência ligado ao Ministério da Fazenda, revela que a Credpag Serviços Financeiros, controlada pelo lobista, recebeu diversos recursos suspeitos. Uma parte deles foi transferida pela DM Web Technology, ligada a Rodrigo Brito, filho de Fernando Brito, que foi sócio da AP Energy. De acordo com a delação de dois executivos da construtora Camargo Corrêa, a AP Energy, sediada num endereço que abriga dezenas de companhias num escritório de fachada, foi utilizada pela empreiteira para repassar propinas da construção da usina de Belo Monte para o senador Edison Lobão (PMDB-MA). Além do ex-ministro de Minas e Energia, Renan, Romero Jucá (PMDB-RR), Jader Barbalho (PMDB-PA) e Valdir Raupp (PMDB-RO) também estão sendo investigados por suspeitas de corrupção na obra de Belo Monte. As empresas de Milton Lyra também receberam ao menos 19 milhões de reais de recursos ligados ao Postalis, cujo controle político era dividido entre o PMDB e PT. O lobista embolsou 13,8 milhões de reais de dois fundos de investimentos estrangeiros, que tinham como principal cotista o fundo de pensão dos trabalhadores dos Correios. Um deles aplicou em papéis podres da dívida externa da Venezuela e da Argentina, enquanto o outro, administrado por Fabrizio Dulcetti Neves, foi alvo de uma investigação tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Fabrizio Neves, que nomeou Milton Lyra como o seu procurador, foi denunciado pelo Ministério Público Federal por investimentos fraudulentos envolvendo recursos do Postalis. O lobista também recebeu cerca de 5 milhões de reais de um projeto que pretendia criar uma nova bolsa de valores no Brasil, cujo principal sócio é o fundo de pensão dos Correios. A função do lobista nesse negócio era dar consultorias políticas e marcar encontros com Renan e outros senadores. O cerco da Lava-Jato em torno do presidente do Senado e seus aliados do PMDB está se fechando cada vez mais. No início de outubro, o advogado e empresário cearense Felipe Parente confirmou, em delação premiada, que entregou dinheiro vivo a uma emissária de Renan e do senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Em junho também veio à tona a delação do ex-executivo Nelson Mello que afirma que Eunício Oliveira (PMDB-CE), forte candidato a comandante do Congresso em 2017, recebeu 5 milhões de reais em caixa dois da fabricante de produtos de saúde e bem-estar Hypermarcas. Esses recursos, que teriam sido repassados a pedido de Lyra, foram utilizados para pagar fornecedores de campanha eleitoral do parlamentar.

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