Em depoimento prestado à Justiça Federal na terça-feira, o empresário Salim Taufic Schahin reiterou que obteve contrato de US$ 1,6 bilhão para operar o navio-sonda Vitória 10.000, da Petrobras, em troca de perdoar dívida de R$ 12 milhões feita pelo pecuarista José Carlos Bumlai para o PT. A oitiva foi realizada pela 10ª Vara de Brasília, por videoconferência, para instruir ação penal na qual o poderoso chefão da orcrim petista e ex-presidente Lula e outros réus, entre eles o ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT), respondem por suposta obstrução da Operação Lava-Jato. Conforme a denúncia, oferecida pelo Ministério Público Federal, Lula teria participado de uma operação para evitar a delação premiada de Nestor Cerveró. A peça acusatória narra uma tentativa de "comprar" o silêncio do ex-diretor da Petrobras. No depoimento, Salim confirmou o empréstimo ilegal, mas disse desconhecer fatos relacionados à suposta tentativa de barrar o depoimento de Cerveró. "Não sei absolutamente nada — afirmou o empresário, que também fez acordo de delação na Lava-Jato. O delator atestou ter feito o empréstimo para Bumlai em 2004. Contudo, como o pagamento das parcelas não foi cumprido dois anos depois, a instituição financeira passou a cobrar o pecuarista, que declinava da obrigação e alegava se tratar de dinheiro para o PT. O empresário informou, ainda, que o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, chegou a ser levado, numa ocasião, para uma das reuniões com o Banco Schahin para demonstrar que o empréstimo era para a legenda. Segundo Salim, o tesoureiro que sucedeu Delúbio, João Vaccari Neto, aceitou dar "apoio político" para a contratação da Schahin na Petrobras, desde que o empréstimo de R$ 12 milhões fosse considerado quitado. "Em função do acordo que nós tínhamos, nós perdoamos o empréstimo, numa operação simulada", afirmou. O delator disse, também, que a dívida de Bumlai foi comprada pela empresa de securitização do Banco Schahin. Reiterou que, para acobertar o perdão dos débitos, foi montada uma operação fictícia de repasse de embriões bovinos de empresas do pecuarista para as fazendas do Grupo Schahin. Na terça-feira, a Justiça também ouviu os empresários Milton e Fernando Schahin. Eles disseram que não tinham o que declarar. Os depoimentos não se alongaram, já que os advogados dos réus abdicaram de fazer perguntas. Também foi ouvida a advogada Alessi Brandão, que trabalhava em 2015 na defesa de Cerveró, juntamente com o o criminalista Edson Ribeiro. Ela afirmou que, ao longo daquele ano, o colega tentou evitar o acordo de colaboração com a Lava-Jato, o que gerou desconfiança dela própria e do filho do ex-diretor, Bernardo Cerveró. Por conta de suspeitas em relação a Ribeiro, a família do ex-diretor da Petrobras decidiu gravar uma reunião entre Bernardo Cerveró, o advogado, o então senador Delcídio do Amaral e seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira. No áudio, o grupo ofereceu dinheiro e um plano de fuga de Cerveró para a Espanha em troca de ele não contar o que sabia à Lava-Jato. Delcídio, que mais tarde seria preso e faria acordo de delação, afirmou que a articulação para barrar a colaboração do ex-diretor foi a mando de Lula. "Tomamos conhecimento da participação de Lula após a delação do senador Delcídio", disse Alessi Brandão.
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