O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta quarta-feira (7) que a transição de poder no Brasil seguiu as normas da Constituição e que o governo americano espera trabalhar "de forma próxima" com o presidente Michel Temer. O discurso de Biden ocorreu na abertura da conferência anual do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), em Washington, no qual o vice americano reiterou que o impeachment de Dilma Rousseff não irá alterar a relações bilaterais. "No Brasil, o povo seguiu sua Constituição para navegar num momento econômico e político difícil, cumprindo os procedimentos estabelecidos para a transição de poder", disse: "Os Estados Unidos vão continuar a trabalhar de modo próximo com presidente Temer, enquanto o governo do Brasil enfrenta desafios urgentes". O Brasil foi o primeiro país citado quando Biden falou dos desafios na América Latina, destacando a importância do país para os EUA: "O Brasil é e continuará sendo um dos parceiros mais próximos dos Estados Unidos na região. Entre democracias, as parcerias não são baseadas em relações entre dois líderes, mas em relações duradouras entre dois povos". Biden foi pivô de um episódio citado pelo então vice-presidente Temer na carta que enviou à mulher sapiens petista Dilma Rousseff no fim do ano passado, queixando-se de que havia sido desprezado por ela no governo. O ressentimento foi causado por um encontro de duas horas com Biden que Dilma teve em sua posse, e para o qual Temer não foi convidado. "Tudo isso tem significado de absoluta falta de confiança", desabafou o atual presidente na época. Um dos participantes da conferência foi Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo e que foi ministro da Justiça no governo de Dilma. Ele considera o processo de impeachment legítimo, mas prevê que a narrativa do golpe adotada pela presidente afastada deve manter uma sombra sobre o governo de Temer por algum tempo. "A opção pelo discurso do golpe foi a última saída. Ele vai continuar porque é o único discurso que sobrou", afirmou Jobim: "O governo vai ter que ter muita habilidade para administrar isso. Por enquanto esse discurso do golpe está dando certo, mas se o Brasil começar a dar certo e a recessão passar, isso entra para a história". Também nesta quarta-feira, o embaixador do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos), José Luiz Machado e Costa, rebateu as críticas de países vizinhos ao impeachment de Dilma Rousseff, afirmando que ele transcorreu "sem rupturas ou sobressaltos" e seguiu o processo legal previsto na Constituição. "Todas as correntes de opinião, inclusive autoridades estrangeiras, têm se referido ao Brasil sem qualquer obstáculo ou constrangimento", disse o diplomata no plenário da OEA. "O Brasil, contudo, lamenta manifestações de alguns países vizinhos e amigos que atribuímos a um profundo desconhecimento do funcionamento de nossas instituições e da vitalidade de nosso sistema democrático". Após a votação no Senado que afastou Dilma definitivamente da Presidência, Venezuela, Bolívia e Equador chamaram de volta seus embaixadores no Brasil, em protesto contra o impeachment. Na sessão desta quarta-feira do Conselho Permanente da OEA, os três países, mais a Nicarágua, pediram a palavra para reiterar que consideram que Dilma foi vítima de um golpe. De outro lado, se manifestaram em defesa da legitimidade do processo os representantes de Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Chile, Paraguai, México, Granada e Jamaica. "O voto é muito importante numa democracia eleita, isso é fato. Mas o sistema constitucional é maior que isso", disse o representante dos EUA, Kevin Sullivan. Acrescentou que há outras ações constitucionais, como o impeachment, que tem o mesmo valor quando ocorrem "nos termos da lei".
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