sábado, 17 de setembro de 2016

Empreiteira propineira Odebrecht tenta fazer acordo simultâneo de delação no Brasil e nos Estados Unidos


A Odebrecht contratou William A. Burk, ex-procurador do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, para comandar o acordo que negocia com o órgão americano responsável por apurar crimes que a empreiteira cometeu envolvendo a Petrobras. Além de ter trabalhado em casos de crimes financeiros no Departamento de Justiça, Burck desponta como um dos mais disputados e caros advogados da área. Entre seus clientes está a Fifa, cujos executivos enfrentam acusações de corrupção. As negociações com o Departamento de Justiça americano começaram no início do ano, quando a Odebrecht passou a tentar firmar acordos de colaboração premiada e de leniência (espécie de delação da pessoa jurídica) com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba (PR) e a Procuradoria-Geral da República. Como a Justiça americana vem trabalhado em coordenação com a brasileira, o objetivo é que, se a empresa firmar a colaboração, isso aconteça ao mesmo tempo nos dois países. Este seria o primeiro acordo fechado simultaneamente entre Brasil e Estados Unidos no âmbito da Lava Jato. A Odebrecht tem a expectativa de pagar nos Estados Unidos multa equivalente a cerca de R$ 750 milhões, valor menor do que o que deve ser firmado com as autoridades brasileiras. Os procuradores que atuam na Operação Lava Jato pretendem cobrar pelo menos R$ 6 bilhões. Além de Burck, que é responsável pela Odebrecht pessoa jurídica, a empresa contratou mais quatro escritórios nos Estados Unidos para cuidar de outras empresas do grupo, como a Braskem, além das pessoas físicas. Um deles está focado apenas em Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo que está preso há mais de um ano. A negociação do acordo é vital para que o mercado norte-americano não feche as portas para Odebrecht. Se o grupo tiver qualquer pendência junto à Justiça dos Estados Unidos, não poderá mais fazer negócios no país, seja com empresas ou instituições bancárias. As leis ficaram mais rígidas em 2014, depois que Brasil e Estados Unidos se tornaram signatários do Facta, acordo de troca de informações financeiras. Esta não é a primeira vez que Burck trabalha para um cliente na Lava Jato. Em abril, o advogado foi contratado pelo Banco BTG Pactual para levantar todos os indícios de práticas irregulares da empresa. O relatório assinado por ele não apontou existência de corrupção. Um trabalho similar de investigação interna também está sendo desenvolvido junto à Odebrecht. Se a empresa escapar da devassa feita por Burck, consegue uma espécie de "atestado" para mostrar a credores e clientes sua idoneidade. No caso do BTG, o trabalho ajudou a estancar a fuga de clientes que não poderiam manter negócio com empresas envolvidas no escândalo. 

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