Na sua ficha no site do Comitê Olímpico Internacional, o irlandês Patrick Hickey, de 71 anos, é descrito como faixa preta de judô. Diz o site que ele "representou a Irlanda internacionalmente". Em Olimpíadas, campeonatos mundiais ou continentais? Ninguém parece saber. Mas de atleta do judô nos anos 1970, Hickey subiu rápido na cartolagem esportiva até virar presidente do Comitê Olímpico Irlandês em 1989. Há 27 anos no mesmo cargo, teve que se afastar temporariamente da função ao ser preso na manhã desta quarta-feira (17) no Rio de Janeiro, por venda ilegal de ingressos para a Olimpíada. Quando a Polícia Civil do Rio bateu em seu quarto em um hotel na Barra da Tijuca, sua mulher disse que ele havia voltado para a Irlanda. Pouco depois, Hickey foi encontrado no quarto ao lado e levado, de roupão, pelos policiais. Alegou passar mal e foi levado a um hospital. Natural de Dublin, Hickey é a figura mais importante da Irlanda no mundo do esporte internacional. Presidente honorário vitalício da federação nacional de judô, além de presidente de comitê olímpico local, ele é membro do Comitê Olímpico Internacional desde 1995. Em 2006, passou a acumular mais um título: virou presidente dos Comitês Olímpicos Europeus e foi responsável por criar uma nova competição esportiva internacional, os Jogos Europeus, em 2015. O evento, que Hickey queria marcar como seu grande legado para o esporte, foi repleto de controvérsias. Entidades internacionais criticaram abertamente a escolha do país-sede para os jogos, o Azerbaijão, pelos registros de violação dos direitos humanos e de liberdade de expressão. Pouco antes dos Jogos do Rio de Janeiro, Hickey criou polêmica ao se pronunciar favorável à participação russa na Olimpíada, apesar das evidências de que a Rússia operava um esquema estatal de doping, que levou muitos atletas a serem banidos das competições. Ainda em 2012, o ex-jogador e então deputado federal Romário anunciou que pediria uma investigação sobre a atuação de Hickey na venda de ingressos para os Jogos do Rio de Janeiro em 2016. "Gostaria de saber - talvez o sr. Nuzman possa esclarecer ao parlamento e à sociedade brasileira - se o sr. Hickey costuma visitar o Rio para contribuir com os preparativos do evento, ou para sondar oportunidades de negócios para sua família", disse em nota em seu site. Stephen Hickey, filho do dirigente, trabalhou na empresa britânica THG, também acusada de venda irregular de ingressos para a Olimpíada, durante os Jogos de Londres. Visto como uma figura controversa na Irlanda, Pat Hickey teve diversos embates com ministros do Esporte do país e com o Conselho de Esportes Irlandês, que já quiseram derrubá-lo do cargo. Mas sua popularidade e influência entre dirigentes de entidades internacionais, principalmente de países do Leste Europeu, o mantiveram no alto escalão da política esportiva. Recentemente, ganhou mais um título, esse dado pelo jornal "Irish Independent": "o homem-teflon do esporte".
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