A produtividade dos poços perfurados nos campos do pré-sal na Bacia de Santos está se mostrando tão alta que está levando a Petrobras a estudar a possibilidade de, em alguns casos, instalar plataformas menores, direcionadas à produção de um único poço produtor. A diretora de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras, Solange Guedes, explica que alguns reservatórios no pré-sal têm revelado a capacidade de um poço produzir até 50 mil barris por dia. Esse volume viabiliza a instalação de sistemas de produção de menor porte, mais econômicos que as grandes plataformas, que demandam muitos equipamentos. A informação foi dada pela diretora da estatal durante uma teleconferência com analistas de mercado, na semana passada, durante a apresentação dos resultados da companhia no segundo trimestre deste ano. O objetivo das plataformas de menor porte é aumentar a produção a um custo menor. Os poços do pré-sal têm apresentado elevada produtividade, sendo que alguns atingem a produção média de 35 mil barris por dia de petróleo — volume alcançado por poucos poços no mundo, a maior parte em terra, no Irã. De acordo com geólogos, a produção de 50 mil barris diários em um poço representaria um recorde mundial. Com uma dívida de US$ 123,9 bilhões, a maior do planeta — em grande parte resultado de negócios equivocados, revelados pela Operação Lava-Jato —, e afetada ainda pela forte queda dos preços do petróleo no mercado internacional, a Petrobras tem como prioridade desenvolver projetos de maior retorno, a um custo bem menor. Segundo técnicos do setor, uma plataforma com apenas um poço para produzir 50 mil barris por dia terá um custo inferior ao de uma plataforma de 150 mil barris diários, que exige a instalação de, em média, dez poços produtores e sete injetores de água. Segundo dados de mercado, enquanto um navio-plataforma para produzir 50 mil barris diários de petróleo pode custar em torno de US$ 1 bilhão, uma embarcação para até 180 mil barris diários custa em torno de US$ 2,5 bilhões — e seus custos de aluguel, portanto, também são maiores. E é justamente para cortar custos e dar prioridade a investimentos no aumento da produção que a Petrobras tem reduzido a perfuração de poços exploratórios em busca de novas reservas. Atualmente, a companhia tem em operação apenas 13 sondas exploratórias, das quais cinco no pré-sal na Bacia de Santos, sendo três em Libra e duas nas áreas de Florim e Tupi Nordeste, nos blocos da cessão onerosa (regime especial para a Petrobras no pré-sal). Solange garantiu que a redução, neste momento, da atividade exploratória não afetará, no futuro, o aumento das reservas. Segundo a executiva, a suspensão das atividades exploratórias está sendo feita de maneira criteriosa. A diretora de E&P informou, recentemente, que a Petrobras tem 31 sondas exploratórias contratadas, contra 48 no ano passado, e que continua negociando com os fornecedores, seja para a suspensão dos contratos de algumas, ou para a redução das taxas diárias de aluguel. Paulo Valois, advogado especialista em petróleo e gás e sócio do escritório de advocacia L.O. Baptista-SVMFA, disse que, assim como a Petrobras, todas as grandes petrolíferas no mundo estão priorizando investimentos no aumento da produção, a fim de reduzir os custos. Prejudicadas pelos baixos preços do petróleo — um cenário que se mantém desde o fim de 2014 —, todas as petrolíferas, diz Valois, estão evitando gastos com riscos exploratórios desnecessários, a fim de reduzir ao máximo os custos e gerar caixa. A primeira plataforma que servirá para avaliar a possibilidade do uso de sistemas de menor porte em alguns campos no pré-sal será o navio-plataforma Pioneiro de Libra, previsto para entrar em operação no primeiro semestre de 2017. O FPSO (sigla de Floating Production Storage and Offloading), que tem capacidade de produzir e estocar petróleo, está sendo construído em Cingapura. Ele realizará os testes de longa duração em Libra, com um único poço, com capacidade total de 50 mil barris por dia. O navio-plataforma Pioneiro de Libra, que está sendo construído, será de propriedade do consórcio formado pela Odebrecht Óleo e Gás (OOG) e a norueguesa Teekay Petrojarl. O investimento é da ordem de US$ 1 bilhão, e, segundo fontes técnicas com conhecimento do assunto, a unidade já está com 85% das obras concluídas. A previsão é que o FPSO, depois de realizar os testes de produção em um dos poços em Libra, seja deslocado para realizar outros testes em mais seis poços, no mesmo campo. A embarcação vai operar em profundidades de até 2.400 metros abaixo do nível do mar. E, como o Pioneiro de Libra se destina à realização de testes de produção em vários poços, ou seja, é itinerante, seu nível de conteúdo local é de apenas 5%. O FPSO será operado pela joint-venture por 12 anos. O navio-plataforma foi contratado pelo Consórcio de Libra, formado por Petrobras (40%), Total (20%), Shell (20%), CNPC (10%) e CNOOC (10%).
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