É uma medida preventiva. Assim, a Afastada evita tomar a “a sua própria comédia pela história universal”
Por Reinaldo Azevedo - Uma das mais brilhantes sacadas de Marx em “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, quando fustiga impiedosamente Napoleão III — sobrinho do Napoleão original —, que deu um golpe em 1851 e se declarou imperador da França, vem expressa assim: “Só depois de eliminar seu solene adversário, só quando ele próprio assume a sério o seu papel imperial e, sob a máscara napoleônica, imagina ser o verdadeiro Napoleão, só aí ele se torna vítima de sua própria concepção do mundo: o bufão sério que não mais toma a história universal por uma comédia e sim a sua própria comédia pela história universal.” Eis aí. Ainda que Napoleão III não tenha sido o palhaço pintado por Marx — vá acreditar nesses comunistas… —, o trocadilho que encerra o trecho deveria servir de advertência a todos os governantes. Por favor, senhoras e senhores! Jamais tomem a própria comédia como se fosse a história universal. Tudo indica que Dilma, no discurso do dia 29, vai posar de Napoleão de hospício, com algumas lágrimas. Ela está acertando os últimos detalhes da defesa que fará no Senado na próxima segunda. O texto será fechado apenas no domingo, quando a petista irá se reunir com o ex-presidente Lula. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a ideia da Afastada é fazer uma fala menos técnica e jurídica, apostando em trechos autorais e emocionais sobre sua trajetória na “luta pela democracia”. Dilma quer reforçar a tese de que o processo está sendo realizado contra a Constituição e vai enumerar os efeitos do que chama de “golpe” nas esferas política, social e econômica do País. Segundo aliados, a petista vai tentar demonstrar ainda que o processo de impeachment “ameaça” a estabilidade democrática e jurídica e deixará “marcas” na história do Brasil. Vale dizer: Dilma vai tentar confundir o seu destino com o destino do Brasil. Se ela cai, então o País e a democracia caem juntos. De resto, dizer o quê? Que pereçam no lata de lixo da história os que torturaram Dilma no passado. Mas que fique claro: não era democracia o que ela queria quando integrava grupos terroristas. Mais: quem a torturou foi uma ditadura. Quem a está impichando é o regime democrático. Ainda que membro de organização terrorista, vá lá que Dilma tenha se mostrado incompatível com a ditadura militar. Não tomasse sua própria comédia pela história universal, ela tentaria refletir sobre os motivos que a levaram a ser incompatível com a democracia. Consta que a agora Afastada deu aula de marxismo quando era jovem. Duvido. Aquilo é coisa difícil. Mas vai que… Então não custa retomar o “18 Brumário…” para evitar momentos patéticos.
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