Segundo advogado de Dilma, relator é parcial porque pede a condenação da Afastada; tudo indica que seria isento, então, se pedisse a absolvição
Por Reinaldo Azevedo - José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, ex-advogado geral da União e, torço por isto, ex-professor de Direito, resolveu dar início à carreira de comediante. Só isso pode explicar uma fala sua desta quarta-feira. Segundo o doutor, o relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) — que sustenta que Dilma cometeu um atentado contra a Constituição ao emitir créditos suplementares sem autorização do Senado e ao praticar as pedaladas fiscais — foi redigido com “paixão partidária”. Sei… Disse ele: “Eu, pessoalmente, tinha uma grande expectativa em relação a como seria o relatório por uma razão muito simples: conheço o senador, homem correto, jurista. E, diante das provas dos autos, de tudo aquilo que foi provado pela perícia, pelas testemunhas, pelos documentos, tinha eu uma expectativa: conseguiria o senador se libertar da paixão partidária e olhar os autos, olhar as provas, olhar o direito? Conseguiria ele utilizar todo o potencial que sempre teve para buscar a verdade, ao invés de curvar-se à paixão? O nobre relator, com toda a sua genialidade, não conseguiu isso; conseguiu defender com o brilhantismo de praxe a tese do seu partido, mas, efetivamente, ele não conseguiu reunir e captar a verdade desses autos”. É mesmo, é? Cardozo acha que esses salamaleques todos anulam a bobagem que está dizendo. Dilma incidiu no Inciso VI do Artigo 85 da Constituição e no Artigo 10 da Lei 1.079. Cometeu crime de responsabilidade contra a lei orçamentária. E é claro que seu advogado sabe disso. Mas vá lá: admito que seu papel seja negar, certo? Afinal, caso admitisse, ele também se transformaria em acusador. A sua comédia pessoal não está aí, mas em acusar a paixão partidária de Anastasia. Se o senador tucano não conseguiu ser um relator isento porque tucano, o advogado de Dilma consegue ser um defensor técnico porque petista? Aliás, a falta de, digamos, decoro é tal que Cardozo fazia a defesa da presidente como advogado geral da União. Apeado do cargo, continuou a exercê-la na pessoa física, de sorte que não fica claro se ele era um advogado de Dilma exercendo a advocacia geral ou um advogado geral exercendo a advocacia de Dilma… Chega a ser espantoso que o sr. Cardozo, um ex-deputado, um ainda professor de direito constitucional, um ex-ministro, um político… Chega a ser espantoso que acuse a eventual parcialidade política de um… político. Se essa condição tisna o juízo, então será preciso impedir que seja o Congresso a decidir o destino dos presidentes em caso de crime de responsabilidade. Cardozo se atreve a defender tal tese? Mais: se pedir a condenação de Dilma faz de Anastasia um relator parcial, sua imparcialidade só estaria comprovada se pedisse a absolvição? Tenham a santa paciência! A agressão à lógica costuma ser o último estágio de quem já não tem mais nada a dizer.
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