Após intensa negociação com o Palácio do Planalto e com o chamado centrão, grupo de 12 legendas de apoio ao governo interino de Michel Temer, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) lançou-se candidato à presidência da Câmara como o favorito para vencer a disputa – e a vitória era esperada com relativa tranquilidade. Às vésperas da votação, porém, a corrida pela sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) aponta para um clima de total incerteza: aliados e o próprio Rosso já admitem que o projeto pode morrer na praia. Neste cenário, ele sequer alcançaria o inevitável segundo turno. O diagnóstico de enfraquecimento do favoritismo de Rosso se deve essencialmente à pulverização de candidatos do maior bloco partidário na Câmara, que buscam no mandato-tampão nacos de influência para projetos pessoais de poder, ainda que todos sejam da base de sustentação do governo provisório de Michel Temer. Minutos antes de a sessão ser aberta formalmente no Plenário da Câmara dos Deputados, articuladores do governo disparavam telefonemas em busca da contabilidade parcial de votos. Avaliavam que, pouco antes das 17 horas de quarta-feira, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) apareceria na liderança com relativa folga e praticamente com os pés no segundo turno da disputa. Publicamente, o presidente interino Michel Temer mantém o discurso protocolar de que não pode interferir na definição do sucessor do peemedebista Eduardo Cunha, embora opere diretamente para evitar a todo custo a chegada ao segundo turno do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro da Saúde e aliado da presidente afastada Dilma Rousseff. “Com tantos candidatos, votos vão fazer falta”, disse um interlocutor de Temer. A cautela é justificada pela necessidade de Temer implementar e ver aprovadas com urgência no Congresso medidas de seu governo interino. E de resto sepultar o risco de prosperar um pedido de impeachment contra ele – o tema adormeceu nas mãos do presidente Waldir Maranhão (PP-MA), a despeito da ordem do Supremo Tribunal Federal para que o processo seguisse adiante. “Se Temer pula publicamente para dentro da articulação, repete o erro da Dilma, que viu o Eduardo Cunha vencer o Chinaglia (Arlindo Chinaglia, candidato ao PT à presidência da Câmara). Neste momento Temer não pode fazer nem marola”, diz um governista. Instantes antes do início da votação, Rogério Rosso dedicou-se a fazer novos cálculos do cenário previsto para esta quarta-feira. O líder do PSD avalia que o deputado Rodrigo Maia, que conta com o apoio dos antigos partidos de oposição à presidente afastada Dilma Rousseff, consiga somar 110 votos. Os mais otimistas chegam a projetar 148 votos para Maia. Nos levantamentos parciais, Marcelo Castro, apoiado por petistas, receberia 100 votos. Na sequência, o próprio Rosso conseguiria no máximo 90 votos, ficando de fora da disputa final. Com experiência em mandatos-tampão – ele ocupou interinamente o governo do Distrito Federal com a queda de José Roberto Arruda em 2010 –, Rosso ficou até a última madrugada reunido com membros do centrão na tentativa de consenso interno. Resultado: os deputados Beto Mansur (PRB-SP) e Fausto Pinato (PP-SP) anunciaram a retirada da candidatura nesta manhã. No entanto, outros dois fortes deputados do grande bloco partidário, Giacobo (PR-PR) e Espiridião Amin (PP-SC), resistiram em recuar e mantiveram o racha do grupo. É esperado que Giacobo consiga o apoio quase majoritário do PR, que tem 43 deputados, e ainda de outros congressistas ligados a Valdemar Costa Neto, senhor absoluto da legenda. Amin complicaria ainda mais o jogo ao atrair parte dos votos de sua legenda e também de partidos da antiga oposição, como o PSDB. Para além do amplo racha entre partidos alinhados a Temer, os indícios de desidratação da candidatura de Rogério Rosso são creditados também às revelações de que duas testemunhas assistiram ao vídeo em que o deputado aparece recebendo propina do ex-secretário do governo do Distrito Federal, Durval Barbosa, delator da Operação Caixa de Pandora e responsável pelo escândalo do mensalão do DEM no Distrito Federal. Na festa de aniversário do ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), nesta terça-feira, um dos temores de apoiadores de Rosso era o de que o vídeo viesse à tona a qualquer momento e eles sofressem desgaste por ter apoiado um parlamentar que poderia ser confrontado com imagens em que embolsaria propina. Em um Congresso historicamente marcado pelo corporativismo e pelos altos índices de traição em votações secretas, Rogério Rosso pode não ser mais o franco favorito. Mas com 14 candidatos distintos, as barganhas de última hora serão fator crucial para eleger o deputado que terá quase sete meses de minutos ao sol no mandato-tampão pós-Eduardo Cunha.
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