O jornal Zero Hora, do grupo RBS, de Porto Alegre, repercute na edição desta terça-feira a matéria publicada por Videversus na noite de domingo, a qual apontou o escritor gaúcho Josué Guimarães como espião da KGB, a serviço da União Soviética, entre meados das décadas de 70 e 80. Videversus teve como fonte uma extensa matéria publicada em março deste ano pelo jornal Expresso, de Portugal. A matéria trata dos arquivos de Vasili Mitrokhin, uma figura mitológica dos serviços secretos da União Soviética, porque foi arquivista chefe da KGB, organismo no qual trabalhou durante 40 anos. Mitrokhin fugiu da União Soviética nos estertores do regime comunista, procurando a embaixada da Grã-Bretanha em Riga, capital da Letônia. E terminou entregando dezenas de milhares de documentos secretos, incluindo as listas com os nomes de espiões da União Soviética que operavam no Exterior, bem como aqueles que haviam sido contratados para espionar para o regime comunista. A matéria do jornal Expresso foi feita a partir da análise dos documentos de Mitrokhin que está depositados nos arquivos da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. A matéria foi centrada na atuação da espionagem da KGB em Portugual. Mas, como na época Josué Guimarães estava auto-exilado no pais, acabou aparecendo. Ele era controlado pelo responsável pela "Rezidentura" (estação de espionagem) de Lisboa. E, conforme os arquivos de Mitrokhin, seguiu espionando mesmo depois de haver retornado para o País. Narra inclusive encontro mantido com espião soviético em Buenos Aires. Na matéria de Zero Hora, todos os esquerdistas ouvidos pelo jornal tratam de anular a possibilidade de que o escritor Josué Guimarães tenha servido como espião para a KGB e o regime soviético, mas nenhum contesta a prova apresentada por Mitrokhin, depositada lá na Universidade de Cambridge. Mais do que isso, o jornalista Flavio Tavares confirma que Josué Guimarães encontrou-se em Buenos Aires com jornalista soviéticos. Até os postes, de qualquer parte do mundo, estão cansados de saber que os jornalistas soviéticos eram agentes da KGB. A seguir leia a matéria de Zero Hora:
12 de julho de 2016 | N° 18579
MEMÓRIA
Jornal português aponta Josué Guimarães como espião da KGB
FAMILIARES E AMIGOS negam envolvimento de escritor gaúcho em atividades secretas da agência soviética
Grande nome da literatura gaúcha, Josué Guimarães (1921 – 1986) teria uma identidade oculta de seus leitores – e até mesmo de seus amigos e familiares. Pelo menos é o que propõe um artigo que começou a circular nas redes sociais desde domingo, segundo o qual Guimarães seria “o espião Gosha, a serviço da KGB soviética”. No entanto, quem conviveu com o autor de A ferro e fogo e Camilo Mortágua assegura que não é bem assim.
– Quem, assim como eu, conheceu Josué sabe que isso é uma barbaridade. Um absurdo – classifica o escritor Sergio Faraco.
O artigo, publicado no site Videversos, recupera informações divulgadas há alguns meses no jornal português Expresso, mas que ainda não haviam repercutido no Brasil. Em 12 de março, o periódico lisboeta divulgou uma longa reportagem na qual analisava o arquivo Mitrokhin, maior acervo de informações sobre os serviços secretos soviéticos, depositado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
EM LISBOA, A SERVIÇO DA REPORTAGEM
A matéria levantava personagens que constituíam uma rede de informação da KGB na capital portuguesa. Entre eles, estaria o gaúcho Josué Guimarães. Segundo o texto, ele teria sido incluído nessa rede em 1976, conhecido como agente Gosha, participando de 42 reuniões – 38 em Lisboa, duas no Rio de Janeiro e duas em Buenos Aires. O escritor, de fato, morava nessa época em Portugal, sendo correspondente do jornal Correio do Povo, além de ter seu próprio periódico, o Chaimite. Mas, para o jornalista Flávio Tavares, autor de Memórias do esquecimento, classificar Guimarães como um agente da KGB é uma “absurda balela”.
– É algo típico de quem não conhece o trabalho dos jornalistas e dos correspondentes internacionais. Os diplomatas são espiões natos, mas ineficientes, e se servem, fundamentalmente, do trabalho dos jornalistas políticos e econômicos para abastecer seus relatórios de Embaixada e, assim, demonstrarem serviço – afirma Tavares.
– É até possível, ou mesmo provável, que os soviéticos dessem um nome de guerra, “Gosha”, no caso de Josué, para identificar a fonte da notícia. Duvido, porém, que fosse um espião e remunerado – conclui.
– É algo típico de quem não conhece o trabalho dos jornalistas e dos correspondentes internacionais. Os diplomatas são espiões natos, mas ineficientes, e se servem, fundamentalmente, do trabalho dos jornalistas políticos e econômicos para abastecer seus relatórios de Embaixada e, assim, demonstrarem serviço – afirma Tavares.
– É até possível, ou mesmo provável, que os soviéticos dessem um nome de guerra, “Gosha”, no caso de Josué, para identificar a fonte da notícia. Duvido, porém, que fosse um espião e remunerado – conclui.
Tavares lembra que Guimarães tinha amigos da embaixada soviética, que possivelmente incluíam em seus relatórios informações de teor jornalístico ouvidas do escritor. No entanto, isso não o colocaria na posição de agente.
– Uma vez em que viajou a Buenos Aires para me visitar, Josué me disse que iria almoçar ou jantar no dia seguinte com o adido de imprensa ou algo similar da embaixada soviética, que ele conhecera em Lisboa, e do qual se tornara amigo – lembra Tavares.
HOMEM DE ESQUERDA, MAS NÃO COMUNISTA
Filho de Josué, Rodrigo Guimarães viveu com o pai em seu período lisboeta. Ele também afirma, com segurança, que o autor jamais fora espião.
– Meu pai era um homem de contatos políticos. Brizola ia lá em casa, assim como Miguel Arraes. Não tenho nenhuma informação sobre isso, mas não seria nada surpreendente se, no final da ditadura militar e da Guerra Fria, ele tivesse alguma relação com alguém da embaixada soviética. Esse contato deve ter ficado registrado em algum lugar. Mas isso é muito diferente de dizer que ele era um espião – afirma Rodrigo, que era adolescente no período em que a família viveu em Portugal.
Amigos de Josué Guimarães também demonstraram surpresa diante da suposta aproximação com a KGB, uma vez que o perfil político do escritor seria incompatível com o de um agente de inteligência comunista. Embora conhecido como um homem de esquerda, Guimarães não se afirmava como comunista, sendo mais identificado por seus ideais democráticos e pela proximidade com Brizola e Darcy Ribeiro.
Outro traço muito conhecido de Guimarães também colabora com a descrença dos amigos. Falante, jamais deixava de expor seu ponto de vista sobre qualquer tema, sendo justamente o oposto do perfil que se espera de um espião.
– Josué não escondia o que pensava. Era uma pessoa de opiniões políticas conhecidas. Seria um espião meio incompetente, eu acho – faz graça o escritor Luis Fernando Verissimo.
ALEXANDRE LUCCHESE | ALEXANDRE.LUCCHESE@ZEROHORA.COM.BR
Um comentário:
Todo comuna é mentiroso. Esse era espião na certa. Querendo entregar o Brasil aos bandidos.
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