segunda-feira, 4 de julho de 2016

Gol conclui troca de bônus e reduzirá dívida em US$ 101 milhões


A empresa aérea Gol concluiu na sexta-feira uma operação para troca de títulos de sua emissão em circulação no Exterior anunciada no início de maio. Com isso, reduzirá a dívida total da companhia — que em 31 de março era de R$ 16,3 bilhões — em US$ 101,2 milhões (R$ 330 milhões). Edmar Lopes, diretor financeiro da Gol, classificou o resultado como satisfatório e destacou que a empresa conversou com mais de 150 investidores de diversos países. O mercado, contudo, reagiu negativamente ao fim da negociação. A agência de avaliação de risco Standard & Poor’s (S&P) reduziu a nota da empresa para SD, equivalente a calote seletivo. Em nota, o analista de crédito da S&P, Marcus Fernandes, disse que a troca de títulos é “considerada problemática ou equivalente ao default nas obrigações”. "A cada dia que passa, entregamos algo previsto na reestruturação. A Gol fica cada vez mais longe de uma recuperação judicial, que nunca fez parte de nossos planos", disse Lopes: "Reduzir a dívida em US$ 100 milhões já é um valor substancial. Houve adesão satisfatória, de 22,4% dos credores. Fizemos a oferta dentro do que caberia no bolso da Gol. Não tínhamos tempo para negociar. Temos executado o que colocamos como prioridades. Nada sozinho resolve, mas o conjunto da obra, sim". Em maio, quando anunciou a oferta de permuta de notas de investidores estrangeiros, a Gol salientou que pretendia concretizar a troca da maior parte dos títulos, que somavam US$ 781 milhões. Ofereceu em garantia peças de reposição de aviões. O fechamento da operação, previsto para 8 de junho, foi adiado algumas vezes em consequência de negociações com os credores, explicou Lopes. A empresa vai usar US$ 13,9 milhões de seu caixa, garantindo uma economia anual com pagamento de juros de US$ 9,3 milhões (R$ 30,3 milhões). Para Adeodato Volpi Netto, chefe de Economia e Mercado de Capitais da Eleven Financial Research, a baixa adesão à oferta reflete dúvidas quanto à geração de receita da empresa: "Ao propor um desconto alto sobre o valor de face dos títulos e a extensão do prazo dos vencimentos, a Gol não tinha como ter adesão maior. É uma operação de risco e de perda para o investidor. Falta planejamento que mostre com clareza como vai se reverter a situação de caixa atual". O mais relevante, diz Volpi Netto, é que, embora a negociação reduza o endividamento, ela é um degrau para obtenção de mais empréstimos. "A Gol quer diminuir o valor contábil da dívida futura para ampliar o endividamento no curto prazo porque o negócio não gera caixa suficiente para reequilibrar a operação", afirmou. Lopes, de outro lado, enxerga efeitos da queda do dólar na adesão à oferta da Gol, que tem metade de seus custos atrelados à moeda americana: "Quando a Gol montou o plano de reestruturação da dívida, o dólar estava em R$ 4,20. Agora, está no patamar de R$ 3,20. A percepção de risco do Brasil começou a mudar. Quem apostou que, com o País melhorando, a Gol vai melhorar, não aderiu. É um efeito paradoxal". A troca de títulos integra um programa de reestruturação de dívida. No primeiro trimestre, a empresa registrou lucro de R$ 757,1 milhões, um alento após 16 trimestres de prejuízos. Na comparação com janeiro a março de 2015, reverteu o resultado negativo de R$ 627,7 milhões. Nessa tomada de fôlego, porém, a companhia anunciou a contratação de assessores financeiros focados na reestruturação da dívida. O pacote para reduzir o endividamento inclui propostas a detentores de debêntures (títulos da dívida) de R$ 1,05 bilhão, quase integralmente nas mãos de Bradesco e Banco do Brasil. Há sinalização positiva dos bancos na negociação, que deve ser concluída este mês, diz Lopes. A meta é conseguir um "waiver" (renúncia) para quitar obrigações financeiras por um ano, além de um empréstimo de R$ 380 milhões num prazo de dois anos. Outros esforços estão focados em reduções de garantias em empréstimos com a Delta Air Lines e na revisão de contratos com a Boeing. A Gol já anunciou que cortará 18% de sua oferta de vôos e 20 aviões da frota. 

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